O primeiro deles foi o Mediterrâneo Restaurante, cujas especialidades culinárias espelham o nome do estabelecimento. Ambiente requintado e harmonioso, bom atendimento. Eis que chega à mesa a carta de vinhos, e como nossa opção seria peixe a escolha seria naturalmente por um vinho branco.
Após perguntarmos sobre a disponibilidade da garrafa selecionada, esperamos um pouco pelo retorno do garçom e fomos informados que ela estava em falta. Escolhi outra, mas também não tinham a garrafa disponível. Quando o rapaz percebeu que eu não arredaria dos brancos ele finalmente comunicou que o estabelecimento estava completamente sem vinhos brancos. Ou seja, das cinco ou seis opções na carta não havia sequer uma garrafa.
O resultado: fomos obrigado a pedir um tinto, adequando os pratos ao mesmo. Para meu paladar o vinho estava muito denso, pesado, carregado demais na madeira. Foi esse aí:
Serrera Wines / Marton Andina
Serrera del Pecado Malbec Cabernet Sauvignon 2014
Mendoza, Argentina
O segundo restaurante foi visitado umas duas ou três semanas mais tarde. Trata-se do Kenkou Sushi House, velho conhecido da família e de nosso círculo de amigos. Por algum motivo que me é extremamente obscuro, nunca tínhamos tomado vinho no estabelecimento, mas nesse dia estávamos decididos a mudar essa escrita.
Na carta de vinhos, que está junto aos demais itens do menu disponível no tablet de cada mesa, apenas um vinho branco estava listado: o Cosecha Chardonnay, reservado disfarçado da Viña Tarapacá. "Okay, tudo bem, esse será o escolhido", pensei. Qual foi nossa surpresa, porém? O vinho estava indisponível. A alternativa seria um Moscatel da Casa Valduga ou um tinto.
E terminamos optando por este:
Viña San Pedro Tarapacá
Cosecha Tarapacá Merlot 2017
Valle Central, Chile
Este Merlot estava agradável. Bem feitinho, redondo, a Merlot é mesmo uma uva coringa quando bem vinificada.
Notem que não estamos falando aqui de estabelecimentos de qualidade duvidosa, mas sim de restaurantes muito bem estabelecidos e de ótima reputação (cliquem nos links e verão as avaliações do TripAdvisor). A completa ausência de vinhos brancos é ainda mais alarmante no caso do Kenkou, uma casa especializada em culinária japonesa.
O aparente desconhecimento dos responsáveis dos restaurantes quanto à importância do vinho branco é somente um dos indícios que denotam o preconceito arraigado de população e empresários quanto a este item específico em sua grade de atendimento ao cliente. Nem vou entrar no mérito dos preços, que no caso do Mediterrâneo são totalmente abusivos e contribuem ainda mais para a marginalização da bebida e suprema permanência da cerveja nas mesas dos frequentadores.
E assim segue o baile.
Vinho branco pra quê mesmo, né?