quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Abaixo o Decanter?

Este texto é uma elucubração que tenta desmistificar o papel do decanter como item essencial a um enófilo.

Sim, essa jarra estranha de vidro ou cristal que soa como frescura desse povo que se diz entendido em vinho, mas na verdade é mais um trambolho que só serve pra ocupar espaço na prateleira.

Seguindo a linha de pensamento que tenta simplificar o ato de tomar vinho, algo que tem o nobre propósito de atrair novos adeptos e facilitar a compreensão de quem está começando a se interessar pelo assunto, quero abrir aqui um parênteses e propôr duas indagações que surgiram, inicialmente, quando comprei um garrafa de Sauvignon Blanc jovem, daqueles bem límpidos e que devem ser tomados geladinhos.


Enfim...

Para minha surpresa, ao fotografar o rótulo e o contrarrótulo antes de mandar a garrafa do Sauvignon Blanc mencionado acima para a adega, tomei um susto com a quantidade de partículas suspensas dentro do vinho. Não era algo irrisório, mas sim uma volume razoavelmente preocupante de partículas que poderiam ser de qualquer coisa, como restos de mosto vínico, rolha em decomposição ou pura e simples sujeira.

Tirando o fato de que isso soa extremamente preocupante para um vinho tão jovem, produzido sem frescuras (é devidamente filtrado) e que não deveria apresentar sedimento algum em seu curto ciclo de vida, desde então fiquei matutando sobre o que faria ao abrir a garrafa (ainda não o fiz).

Seguindo a cartilha clássica encontrada em qualquer papiro enófilo, de início pensei em deixar o vinho na vertical por um tempo e só então abri-lo com cuidado, fazendo a transferência do líquido para um decanter.

Então ocorreu-me que usar o decanter num vinho tão jovem, que não necessita de aeração, seria um claro desperdício de tempo e esforço. E aí tive um estalo.

Por que usar um decanter para separar sedimentos quando eu posso simplesmente filtrar o vinho com um funil adequado?

Ora bolas, se eu preciso me livrar de borras, sedimentos ou sujeira por que eu me daria a todo o trabalho que envolve um decanter? Desde de esteja limpinho, um filtro ou coador com área de filtragem adequada faz a mesma coisa de maneira mais eficiente, seja para vinhos jovens ou para vinhos velhos. Aí é só depositar o líquido numa jarra e retorná-lo pra garrafa em seguida, pronto.

Por que usar um decanter para aerar um vinho se eu posso simplesmente chacoalhá-lo bem ainda na garrafa ou usar um daqueles aeradores acopláveis?

A área de contato maior do vinho com o ar dentro de um decanter serve para aumentar seu contato com o oxigênio, evaporando o álcool mais rapidamente e liberando os aromas subjacentes. No caso de aeradores, seu propósito seria o de acelerar esse processo por meio do "turbilhonamento" do líquido.

Pensando de maneira extremamente prática, oxigenar um vinho e liberar aromas é algo que pode ser feito simplesmente chacoalhando a garrafa após abri-la e deixando o vinho respirar na taça depois de servido. O resultado seria o mesmo, além de ser mais rápido e evitar todos os contratempos de controle de temperatura relacionados ao uso do decanter.


Obviamente não vou me desfazer dos meus dois decanters. Porém, cada vez mais me convenço de que com exceção do garbo que acompanha o correto uso de um decanter à mesa, que para a plateia leiga soa mais como afetação do que algo realmente útil, este item pode ser sumariamente substituído por objetos ou procedimentos mais simples.

Estarei sendo herético diante da sagrada instituição enófila?
Ou simplesmente estúpido?

Sintam-se à vontade para concordar, discordar ou me mandar um vinho de presente.

sábado, 9 de setembro de 2017

Destaques de AGO-2017

Que mês quente foi Agosto!

Ramón Roqueta Macabeo / Chardonnay, DO Catalunya 2014 (Espanha)

🍷 Se há algo do rótulo extremamente expositivo com o qual concordo é o aspecto floral dos aromas em meio a orvalho matutino. Ótimo vinho, foi uma grata surpresa. Em boca é muito equilibrado, daqueles que você precisa ter cuidado para que a garrafa não vá embora muito rápido.

Casas del Toqui Barrel Series Reserva Sémillon, DO Valle de Cachapoal 2016 (Chile)

🍷 Última garrafa de um Domingo em que tivemos visitas queridas para o almoço, este varietal incomum é meu primeiro 100% Sémillon seco. Sutil, delicado, refrescante e no geral muito equilibrado, o estágio em madeira não interfere de forma alguma no ótimo frescor mas deixa o vinho em ponto de bala para acompanhar pratos como o risoto de bacalhau preparado por minha esposa.

Mommessin, Beaujolais Rosé 2014 (França)

🍷 Comprada num saldão de promoção da wine.com, esta foi a garrafa que com certeza mais se sobressaiu. Tímido no olfato como esperado para um rosé, porém dotado de vívidas nuances de morango e framboesa no paladar mineral. Há que se elogiar também a bonita cor/textura deste belo e baratinho Gamay, que confere elegância a qualquer taça.

Duca Di Salaparuta / Cantine Florio, Vecchioflorio Marsala Superiore Dolce DOP, Sicilia 2013 (Itália)

🍷 Minha esposa queria os ingredientes originais para preparar um tiramisu, então finalmente foi chegada a hora de conhecer um tipo diferente de vinho fortificado, produzido a partir das castas italianas Grillo e Catarratto. Por trás da designação de cor "âmbar" trata-se de um néctar espesso, opulento e maduro com dulçor dominado por caramelo e mel. Além do próprio tiramisu, servido após o bacalhau do Sémillon mais acima, o vinho foi ainda muito bem harmonizado com chocolate, torta alemã, doce de casca de laranja e sessões de vídeo-game. Álcool em 18%.

Cavino, Nemea Reserve PGI, Peloponessos 2011 (Grécia)

🍷 Um caldo austero de corpo médio, boa acidez e taninos salientes, maduro no olfato e levemente acarvalhado no paladar, produzido a partir da uva grega Agiorgitiko. Mostrou-se potente sem ser agressivo, eu poderia tê-lo tomado sozinho apesar dele pedir harmonização com comida.

* O Ramón Roqueta foi adquirido por meio do site da Vinhoteca, o Casas del Toqui veio pela Vinumday, o Beaujolais Rosé via wine.com, o Cavino do clube Winelands e o Marsala comprei na nova unidade do supermercado Big-Lar, recentemente inaugurada no Jardim das Américas.