quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Vinhos de Bicicleta, seleção Liberté - Uma Retrospectiva para 2016

Com a notícia de que a Wine.com iria novamente repetir uma vinícola no mês de Fevereiro em sua categoria intermediária, acabei tomando a decisão de sair do ClubeW. E para manter uma pequena fonte de vinhos diferenciados todos os meses acabei optando pela seleção Liberté do Clube Vinhos de Bicicleta, que tem uma proposta bacana e pelo que pude perceber é similar em qualidade ao ClubeW Classic.

Recapitularei agora rapidamente todas as seleções do ano de 2016.

Janeiro - RJ Viñedos (Argentina), Lidio Carraro (Brasil)
  → Joffré Expresiones de Terroir Chardonnay, Mendoza 2014
  → Avesso Vinho de Autor, Serra Gaúcha 2014

Ambos os vinhos se mostraram bem agradáveis, em especial o Avesso por este ser um assemblage de Tannat e Pinot Noir, duas castas de características francamente antagônicas. Textura e corpo leves, o que significa predomínio final da Pinot, com olfato de framboesa evoluindo para morangos e fim de boca breve.

Avesso Vinho de Autor, Serra Gaúcha 2014

Fevereiro - MGM Mondo del Vino (Itália)
  → Mandorla Primitivo, Puglia IGT 2014
  → Mandorla Pinot Grigio delle Venezie IGT 2014

Dois italianos interessantes. O Primitivo se mostrou mais sutil que a maioria das garrafas da casta que se encontra no mercado, com presença em nariz e boca de especiarias, frutas secas e cereja. Quanto ao Pinot Grigio, harmonizei-o com sushi: leve, delicado, de boa acidez, olfato marcado por nuances de pêra.

Mandorla Primitivo, Puglia IGT 2014

Março - Badia di Morrona (Itália), Ego Bodegas (Espanha)
  → Rosso dei Poggi, Toscana IGT 2014
  → Marionette, DO Jumilla 2012

Com 85% de Sangiovese e 15% de outras uvas, o Rosso dei Poggi foi um dos vinhos mais fechados que provei esse ano. Confesso que tentei ter paciência com ele, mas essa foi uma daquelas garrafas em que a única característica que pareceu emanar da taça foi o álcool. Com partes iguais de Mourvédre e Syrah, o Marionette já agradou bem mais, incluindo aí uma boa presença de carvalho em meio à baunilha e às frutas negras, num vinho vibrante de médio corpo.

Marionette, Jumilla DO 2012

Abril - Azienda Agricola Montechiaro (Itália), Puntí Ferrer (Chile)
  → Monte Chiaro Saltimbanco Rosso di Toscana IGT 2013
  → Cantagua Carmenere, Valle de Curicó 2014

Levei um susto quando abri o Saltimbanco para acompanhar uma rodada de queijos e pães. Por algum motivo que até hoje me intriga o vinho estava inerte, sem qualquer odor ou sabor, como se estivesse morto. Ao invés de jogá-lo fora decidi guardá-lo para ver como estaria no dia seguinte, e não é que ele ficou palatável? Mistério...

O Cantagua Carménère se mostrou opulento e maduro no nariz carregado de amoras e ameixas, porém de paladar um pouco etéreo com taninos salientes.

Monte Chiaro Saltimbanco Rosso di Toscana IGT 2013

Maio - Fattoria La Casaccia (Itália), Quinta Vale de Fornos (Portugal)
  → Gugu, Toscana Rosso IGT 2013
  → Vinha do General, DO Tejo 2013

Há algum tempo atrás escrevi sobre o Gugu aqui mesmo no blogue, então vou dar um repeteco nas anotações sensoriais: o blend é composto por 85% Sangiovese e 15% Merlot com bom olfato frutado para um caldo ainda jovem, que se mostrou um pouco verde em boca mas evoluiu bem na taça degustada fora de casa.

O Vinha do General, por sua vez, foi o primeiro exemplar que provei da região do Tejo. Composto por partes iguais de Castelão e Syrah, o vinho é frutado, com acidez presente e leves toques de cera e violeta. Persistência breve.

Vinha do General Tinto, VR Tejo 2013

Junho - Vinícola Helios (Brasil)
  → Dórico Merlot, Serra Gaúcha 2013
  → Corcéis Tannat, Serra Gaúcha 2013

Escolhida como primeiro ponto de distribuição dos produtos da Helios em São Paulo, a Vinhos de Bicicleta apresentou dois exemplares marcados pela presença poderosa de madeira no processo de amaciamento dos vinhos, ambos muito bons. Ao contrário dos demais exemplares da vinícola, que são produzidos em São Joaquim, estes vêm diretamente da Serra Gaúcha (Guaporé).

Corcéis Tannat, Serra Gaúcha 2013

Julho - Domaine du Père Guillot (França)
  → Pisada Cuvée, Vin de la Communauté Européenne 2014
  → Saint-Palatins Tradition de Vignerons, Vin de la Communauté Européenne 2014

Ambas as garrafas são 100% Tempranillo, vinificadas em solo francês com uvas provenientes de terroir espanhol. Por isso a denominação regional de vinho da comunidade europeia (Vin de la Communauté Européenne). Parece suspeito, não? Principalmente porque não existe informação alguma sobre esses vinhos no site da vinícola. Não que haja algo de errado com eles; por enquanto o único que provei foi o Pisada, um caldo com muita fruta madura e textura contraditoriamente leve.

Pisada Cuvée, Vin de La Communauté Européenne 2014

Agosto - The Wine People (Itália)
  → Colpasso Primitivo, Puglia IGP 2013
  → Colpasso Nero D'Avola, Terre Siciliane IGP 2014

Vinhos leves e mais joviais que os que podem ser encontrados no mercado nacional para as mesmas uvas. O Nero D'Avola, em específico, se mostrou bem maduro no olfato, que exibe bons níveis de fruta negra, ameixa e compotado, seguido por paladar de taninos finos, persistência média e boa acidez.

Colpasso Nero D'Avola, Terre Siciliane IGP 2014

Setembro - Vinos del Sur (Chile)
  → Casa Diego Reserva Syrah, DO Valle de Itata 2013
  → Casa Diego Reserva Pinot Noir, DO Valle de Itata 2013

Alguns dos melhores rótulos chilenos dos últimos anos são provenientes do Valle de Itata. Infelizmente, o único vinho que provei até o momento dessa seleção não agradou muito. O Syrah veio com acidez inicial muito forte, característica que desaponta após os agradáveis aromas de frutas negras e nectarina. O desequilíbrio foi amaciado um pouco com um tempinho em taça e comida, mas fica a esperança de que a degustação do Pinot Noir seja mais bem-sucedida.

Casa Diego Reserva Syrah, DO Valle de Itata 2013

Outubro - Badia di Morrona (Itália), Casa da Fonte Pequena (Portugal)
  → Caligiano Chianti DOCG Edizione Speciale Vinhos de Bicicleta, Toscana 2013
  → Alto da Vila Tinto, Douro DOC 2011

Por enquanto a única garrafa apreciada foi o Chianti rotulado especialmente para o clube. Ao contrário do tinto toscano do mês de Março, dessa vez a Badia di Morrona / Gaslini Alberti foi muito mais de encontro ao meu paladar: olfato de framboesa, cereja e amoras, com boa textura e fim de boca delicado. Foi muito bem harmonizado com espaguete à bolonhesa e uma singela tábua de queijos.

Caligiano Chianti DOCG Edizione Speciale Vinhos de Bicicleta, Toscana 2013

Novembro - Vinícola Trambusti (Itália), Cantine Manfredi (Itália)
  → Zipolino Rosso, Toscana IGT 2015
  → Castelvecchio Barbera, Piemonte DOC 2015

Ainda não provei nenhum dos dois. A composição do Zipolino leva 95% de Sangiovese, o que já é uma excelente notícia para mim. Quanto ao Barbera da DOC Piemonte, a esperança é que a simplicidade ande de mãos dadas com a qualidade.


Dezembro - Società Agricola Randi (Itália), Vinhedos Capoani (Brasil)
  → Rambëla Extra Dry, Emilia-Romagna
  → Capoani Merlot/Tannat, Vale dos Vinhedos 2013

Duas incógnitas que têm boa chance de surpreender. O espumante é feito pelo método Charmat a partir de 100% Rambëla, uva autóctone que na região de Ravenna na Emilia-Romagna tem ainda a alcunha de Famoso. Já o blend de Merlot/Tannat vem de uma vinícola butique na Serra Gaúcha cujas primeiras safras datam de 2010. As expectativas são boas para ambas as garrafas.


De modo geral, os exemplares de 2016 da categoria Liberté agradaram, com duas ou três garrafas que até agora decepcionaram. Muito me alegrou o percentual de rótulos italianos e a inclusão de um espumante diferenciado para o período de fim de ano, só faltou mesmo um pouco mais de vinho branco no segundo semestre.

Comparativamente, o Clube Vinhos de Bicicleta não tem nada do valor agregado em revista ou da interatividade proporcionada pelo site da Wine.com. As seleções vêm acompanhadas somente por um folheto impresso com informações sobre os vinhos (as mesmas que são divulgadas no website), e nenhum recurso de feedback existe para as opiniões dos clientes internautas (o que no final das contas pode ser algo positivo, vide o amontoado de baboseiras que infesta as seções de comentários do ClubeW).

Para o próximo ano minha intenção é migrar para a categoria superior do clube, a Fraternité.

Por enquanto, um forte abraço a todos os leitores e saúde!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Compra pela Internet - Weinkeller

Há tempos eu queria provar um Pinot Noir alemão, mas como é impossível encontrar por aqui uma garrafa do Spätburgunder (nome da uva no idioma germânico) acabei procurando por uma loja online que pudesse aplacar meu desejo.

Acabei encontrando o endereço da Weinkeller, que até onde sei é a única importadora no Brasil especializada exclusivamente em vinhos alemães. A empresa possui loja física no bairro Jardins, centro de São Paulo, porém o portfólio para vendas online é bem reduzido, e de acordo com eles composto por vinhos produzidos por vinícolas orgânicas e biodinâmicas de pequeno porte das principais regiões da Alemanha.

O pedido foi realizado em 31 de Outubro, sendo a entrega feita em pouco mais de uma semana, no dia 9 de Novembro. Enfim, serviço de entrega nota 10.


Embalagem boa, vinhos bem acomodados.


Além do Spätburgunder da Weingut Michel, pedi também um Grauburgunder (Pinot Grigio), dois Rieslings e um Merlot. Todos vieram conforme as especificações do site, com exceção do Merlot, que chegou com uma safra dois anos mais recente.

Falando em especificações, um dos aspectos mais interessantes e bacanas do site e dos vinhos importados pela Weinkeller é que são fornecidos dados claros sobre a acidez e o teor de açúcar residual de cada garrafa, algo que no caso dos vinhos alemães é extremamente importante. Principalmente para quem tem dificuldade em compreender a sua intrincada classificação.


Por fim, o serviço de atendimento ao cliente via email foi bem cordial.

Um observação: fui verificar hoje e notei que todos os endereços da Weinkeller estão sendo redirecionados para a loja virtual. Não é mais possível ver o conteúdo que estava no site há até pouco tempo, que trazia dados bacanas sobre as vinícolas e sobre os vinhos alemães em geral.

VEREDITO FINAL: indico e compraria de novo.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Encheu! E agora?

Meu primeiro depósito de rolhas encheu!


E agora, José?

Estive olhando outros modelos para continuar a guardar as rolhas, mas não cheguei a nenhum que gostasse de fato.

Sugestões?

Nota: por enquanto as tampas de rosca estão tranquilas...

sábado, 10 de dezembro de 2016

De Firulas e Floreios

Ah, o inescrutável mundo do vinho, antes impenetrável, hoje não mais um mistério tão grande.

Além de todos os aspectos práticos que já absorvi, posso também dizer que fui capaz de desencanar de várias coisas que antes não me deixavam muito à vontade como, por exemplo, o medo de provar uma garrafa de safra mais antiga (bebe logo, deve estar estragado!), a neura em torno do serviço (nem sempre é preciso taça), a fleuma deselegante (nem todas as situações exigem ritual), o preconceito contra vinhos de mesa (ora bolas, são feitos de uvas também), o preconceito contra as garrafas de supermercado (nada lá presta!) ou a famigerada relação qualidade-preço (é possível ter muita satisfação com vinho abaixo de R$ 50), entre outros.

Mas uma das coisas mais importantes das quais desencanei foi dar excessiva importância às avaliações em massa de vinhos feitas por veículos especializados ou pseudo-especializados. Passei a criar minhas próprias expectativas de uma forma mais independente, nunca compassiva e às vezes por demais inquisitiva.

Não é raro eu me desapontar ou rir com o excesso de firulas que muitos veículos de comunicação utilizam para descrever ou avaliar vinhos. As conotações associativas, as qualificações subjetivas e os floreios sem sentido prático são o que mais me causam espanto. Como se não bastasse a ênfase enfadonha sobre a cor universal do vinho tinto (rubi com reflexos violáceos!), às vezes há um excesso de descritores aromáticos e gustativos que nada mais fazem que desanimar quem está começando a gostar ou tentando entender um pouco desse mundo.


Fato: para a esmagadora maioria das pessoas o vinho tem cheiro e gosto de vinho, pronto. Com alguma persistência e boa vontade do bebedor, depois de algum tempo o paladar evolui e surgem associações organolépticas que devem ser evidentes e esperadas. E pronto, chega.

Se o vinho lembra as frutas do pomar da vovó, a brisa do mar de Noronha, o brioche de um café da Champs-Élysées ou a grama molhada dos jardins suspensos de Alto Coité, isso fica totalmente a cargo de quem está bebendo aquela garrafa, naquele momento e naquelas circunstâncias específicas. Infelizmente, ainda tem gente que ao ler esse tipo de coisa pensa que vai experimentar essas sensações quando abrir aquela /preciosa/ garrafa agraciada com os /imbatíveis/ 98 pontos by Robert Parker. E essas pessoas caem do cavalo feio, para imediatamente em seguida se sentirem nas nuvens com um Concha y Toro Reservado degustado na varanda de casa enquanto se joga conversa fora com o vizinho.

Você já foi levado por alguma onda de entusiasmo e se decepcionou com um vinho? Eu já. E continuo sempre lutando para não passar novamente por tal constrangimento interno. Porque, sabem como é, a vergonha meio que não nos deixa verbalizar a confusão e o desapontamento, e acaba fazendo com que muita gente não consiga desenvolver um paladar próprio.


Enfim...

Para não polarizar minhas expectativas de maneira equivocada, não leio mais as avaliações descritivas que são feitas em lote por revistas e veículos especializados. Por outro lado, sempre que posso procuro lê-las depois que já degustei determinado vinho, afinal é sempre mais interessante conferir outros pontos de vista sobre algo que você já conhece.

Nada contra os profissionais que são pagos para redigirem os textículos em lote ou contra as pessoas que ali acreditam haver real valor, porém depois de algum tempo tornou-se inevitável a sensação de que estou diante de um rodízio de resenhas esotéricas/astrológicas que se alternam a cada cinco luas. Na minha opinião é muito mais proveitoso se informar acerca do produtor e dos métodos que ele utiliza em seus processos, assim como os cuidados que ele demonstra com os vinhos que coloca no mercado. Informações objetivas, reportagens e artigos bem escritos, sem (excessiva) perfumaria. Além disso, as melhores referências sempre serão aquelas que saem do lugar-comum e vêm com algum contexto sincero, incluindo aí opiniões bem ponderadas de amigos e conhecidos.

De contrarrótulos sem-vergonha e descrições safadas de marketing o mundo do vinho está cheio, e sinceramente acredito que isso influi na manutenção da aura de esnobismo que cerca a bebida na mesma medida (ou até mais) que os constantes aumentos de preços/impostos.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Casarena, Lauren's Single Vineyard Agrelo Petit Verdot, Mendoza 2012 (Argentina)

Vinho: Lauren's (Single) Vineyard Agrelo Petit Verdot
Safra: 2012
Região: Mendoza
País: Argentina
Vinícola: Casarena Bodega y Viñedos (http://www.casarena.com)


Uma das garrafas que se sobressaiu nas minhas últimas degustações foi novamente um exemplar que trouxemos conosco de nossa viagem à Argentina.

Essa foi também a primeira oportunidade que tive de provar um varietal 100% feito com a casta Petit Verdot, que possui cor intensa e costuma ser considerada bem tânica. Ela floresce mais cedo na primavera e amadurece bem mais tarde que as variedades tintas mais comuns, o que torna seu cultivo bastante delicado em regiões mais frias. Não fosse por sua capacidade de resistir às doenças e à podridão (casca espessa e fruto pequeno) ela já teria desaparecido no velho mundo.

É pelo motivo acima que a vinificação varietal da Petit Verdot é mais frequente em regiões onde é possível colhê-la em condições ideais de maturação, ou seja, nos terroirs de clima mais quente e seco. Em locais frios ela é normalmente empregada para aportar estrutura em cortes bordaleses.


Casarena Bodega y Viñedos

A Casarena Bodega y Viñedos foi a primeira vinícola que minha esposa e eu visitamos durante nossa viagem a Mendoza, e por experiência própria atesto a boa recepção que tivemos, a agradável degustação realizada na sala de vendas e a qualidade do passeio por suas instalações, que incluiu provas de vinhos em estágios distintos de elaboração.

A vinícola iniciou suas atividades em 2008, após a restauração de uma instalação centenária localizada em Luján de Cuyo, na região metropolitana de Mendoza. As plantações se situam numa altitude de quase 1.000 metros, distribuindo-se em quatro vinhedos/fincas cujos nomes aparecem nas garrafas da linha Single Vineyard. A finca Jamilla, onde está a sede, situa-se no distrito de Perdriel, sendo as demais localizadas mais ao sul, no distrito de Agrelo (Naoki, Lauren e Owen).

Atualmente a capacidade de produção da Casarena é de 650.000 litros utilizando tanques de concreto e 175.000 litros em tanques de aço inox. Em suas instalações há ainda uma cave capaz de abrigar 400 barris de carvalho destinados à parte final do processo de maturação dos vinhos antes deles irem ao mercado.


A linha Single Vineyard

Esta linha aposta na qualidade dos terroirs de Perdriel e Agrelo para a produção de varietais que tentam transmitir a máxima expressão das cepas escolhidas. A arte dos rótulos é peculiar por mostrar de maneira estilizada a localização de cada lote dos vinhedos de onde provêm as uvas, criando uma identidade visual muito bacana.

A Casarena produz também a linha DNA, que traz varietais feitos a partir das melhores parcelas de todas as fincas que dão origem ao Single Vineyard. E há ainda a garrafa Icono, blend dos melhores barris de onde saem os exemplares DNA.

Fonte das uvas que dão origem a este excelente Petit Verdot, o vinhedo Lauren conta com 82 hectares plantados em 2007 sobre solo argiloso, a uma altitude de 925 metros. É a finca da Casarena com maior número de variedades viníferas plantadas.


O vinho degustado: Lauren's (Single) Vineyard Agrelo Petit Verdot, Mendoza 2012

No nariz o vinho mostrou muita fruta vermelha tendendo para o maduro, como amoras e groselha. Groselha também foi o que mais apareceu no paladar de ótima acidez, com aquela fugidia sensação de fruta azedinha em meio a leve especiaria.

O aspecto mais interessante que notei nesse Petit Verdot foi que o carvalho francês dos 18 meses em barricas desaparece em meio ao fim de boca aveludado e equilibrado. O vinho tem bom corpo (médio +), mas não há absolutamente nada que remeta ao peso dos sucos de madeira que costuma estar associado aos vinhos mais alcoolicos do novo mundo, o que é simplesmente fantástico e me faz ter certeza de que eu estava degustando uma ótima garrafa. Para o meu paladar, pelo menos.

Depois dessa primeira experiência, se eu tivesse que comparar a Petit Verdot com outras castas que conheço melhor eu a colocaria entre a Merlot a Syrah (cor e corpo), com um leque de sensações similares àquelas suscitadas por um bom italiano de média estirpe. Agora para enriquecer ou mudar essa opinião só na próxima garrafa.

Detalhe: apesar das recomendações de decantar/aerar por algum tempo antes de provar, informo que não o fiz. O vinho estava redondinho ao ser aberto e foi direto à taça. Maravilha!

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Gugu Dadá

No mês passado foram várias as vezes em que abri um vinho em comemoração a alguma coisa relacionada à rotina da minha filha recém-nascida. Levantei inúmeras taças em brinde aos primeiros dias em que passamos juntos, tanto sozinho com meus pensamentos quanto na presença de familiares que compartilharam essa alegria com ela, com mamãe e com papai.

Foi meio sem querer que me dei conta, certo dia, de que uma dupla especial de garrafas remetia com certo humor ao fato de estarmos na companhia da minha bebê na maior parte do tempo.


Aproveitando o ensejo, compartilho agora opiniões rápidas e rasteiras do que aprendi com essa inusitada dupla. As circunstâncias de ambas as “degustações” não poderiam ser mais distintas, mas todos nós sabemos que onde há vinho sempre haverá alegria, seja na atividade ou na contemplação, no calor ou no frio, na solidão ou na companhia de amigos.


O Gugu Toscana Rosso IGT 2013 é produzido pela Fattoria La Casaccia, vinícola localizada na comunidade de Castelnuovo Berardenga, no coração da região de Chianti. Recebi a garrafa numa das seleções da categoria Liberté do clube Vinhos de Bicicleta. O blend é composto por 85% de Sangiovese e 15% de Merlot, e após a fermentação é envelhecido 6 meses em tanques de cimento e 3 meses em garrafa antes de ir ao mercado. Possui bom olfato frutado para um caldo ainda jovem, que se mostra um pouco verde em boca mas evoluiu bem na taça degustada fora de casa.

Lembro que no dia em que abri o vinho eu estava finalmente tentando consertar o aspirador de pó, que se recusava a funcionar já há mais de uma semana. Entre uma peça e outra desmontada e um teste e outro com o multímetro eu tomava um gole para me refrescar do calor. No meio do caminho cheguei a derrubar uma taça por acidente, mas juro que não estava afetado pelo álcool. Já o aspirador, infelizmente, estava além de qualquer conserto.


A linha de vinhos Dadá da Finca Las Moras é produzida nas pradarias de San Juan, um pouco mais ao norte de Mendoza, e possui a proposta de apresentar qualidade a preços que cabem perfeitamente no bolso (pelo menos lá na Argentina). São sete os vinhos que compõem a linha, sendo que comecei a degustá-la pelo primeiro, o Dadá Art Wine 1, safra 2015. Corte de Malbec e Bonarda em quantidades iguais, o vinho não se mostrou muito expressivo nos aromas, apresentando textura leve de xarope em meio a muito carvalho. Pelo menos posso dizer que não fez feio numa noite de Sábado bem aproveitada em família, já que a garrafa foi embora num tapa enquanto beliscávamos uma tábua de queijos e jogávamos alguns rounds de Super Street Fighter Turbo HD Remix no Xbox 360.


Minha bebê ainda não fala nem gugu e nem dadá, mas fica aqui um brinde amoroso à sua saúde, hoje e para sempre!

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O vinho e a (minha) saúde

Há alguns meses atrás levei um susto ao pegar o resultado dos meus exames de rotina.

A taxa glicêmica de jejum, índice que mede a quantidade de açúcar no sangue, bateu nos 128 mg/litro. Para quem entende, este número está acima do limite atualmente estabelecido como um dos três fatores usados no diagnóstico de diabetes. Além da glicemia alta, outro parâmetro que estava alterado era o nível de triglicérides, o que faz sentido pois glicemia e triglicérides meio que andam de mãos dadas.

Por ser uma bebida que possui álcool, o vinho é calórico. Calorias aumentam o nível de glicemia e triglicérides. E uma esposa preocupada tranca a adega com um cadeado depois de um exame com resultado desses...

É fato que eu sempre tive glicemia limítrofe, variando em torno dos 100 mg/litro. Como apreciador inveterado de vinhos, quando a luz vermelha do exame acendeu eu logo me lancei numa pesquisa para compreender como seria possível administrar a quantidade de álcool que estou ingerindo de forma a garantir a segurança de meu hedonismo enófilo, para qualquer eventual necessidade.

Chegamos, portanto, ao motivo de porque estou a divagar sobre minha saúde.


Dourar a própria pílula é algo natural para qualquer ser humano, mas às vezes é preciso ser racional. O vinho, mesmo com todas as presumidas vantagens que possui para a saúde quando consumido com moderação, é uma bebida que tem álcool e açúcar em sua composição. A boa notícia é que o teor de açúcar no vinho pode ser desprezado. E quanto ao álcool? Todos sabem que o álcool, quando consumido em excesso, é prejudicial à saúde no curto, no médio e no longo prazo.

Praticamente todas as informações médicas sobre a relação entre álcool e perturbações glicêmicas (das quais a pior é a diabetes) se desencontram em algum momento. Umas fontes dizem que pode, outras dizem que não. Umas exaltam os benefícios do vinho para o coração e para o controle do colesterol, outras alegam que os malefícios superam os alegados benefícios. O único ponto em comum na maioria dos artigos é que o consumo de álcool deve ser moderado, seja ele no vinho, no uísque ou na cerveja.


De acordo com o Sr. Dráuzio Varella, 25g de álcool por dia é a linha de corte entre o consumo moderado e o consumo não moderado de álcool, uma quantidade que é responsável por aportar cerca de 175 kcal ao organismo humano. 25 gramas de álcool equivale a aproximadamente 3 doses, sendo que 1 (uma) dose de álcool corresponde à quantidade aproximada que o organismo de um adulto médio consegue processar em uma hora, ou seja, após decorrida 1 hora de ingestão desta dose pouco ou nenhum álcool será deixado no sangue de um adulto. Nota: mulheres devem cortar estas quantidades pela metade.

Eu costumo medir meu vinho por garrafa, meia garrafa e taça, sendo que cada garrafa rende quatro taças bem servidas. Sabendo que a densidade do álcool é de 0,8 g/ml, apresento a seguinte tabela que mostra a quantidade de álcool presente numa garrafa e em suas frações, tanto em volume quanto em massa para cada grau de teor alcoolico:

187ml
1/4 de garrafa
(1 taça bem servida)
250 ml
1/3 garrafa
(2 taças rasas)
375 ml
1/2 garrafa
   
750 ml
garrafa inteira
   
9%16,9 ml / 13,5 g22,5 ml / 18 g33,8 ml / 27 g67,5 ml / 54 g
10%18,8 ml / 15,0 g25,0 ml / 20 g37,5 ml / 30 g75,0 ml / 60 g
11%20,6 ml / 16,5 g27,5 ml / 22 g41,3 ml / 33 g82,5 ml / 66 g
12%22,5 ml / 18,0 g30,0 ml / 24 g45,0 ml / 36 g90,0 ml / 72 g
13%24,4 ml / 19,5 g32,5 ml / 26 g48,8 ml / 39 g97,5 ml / 78 g
14%26,3 ml / 21,0 g35,0 ml / 28 g52,5 ml / 42 g105,0 ml / 84 g
15%28,1 ml / 22,5 g37,5 ml / 30 g56,3 ml / 45 g112,5 ml / 90 g

Observa-se claramente pela tabela onde estão as áreas seguras e as áreas onde se considera que o consumo de vinho/álcool está acima do moderado. Tomei a liberdade de marcar uma zona cinza, que vai dos 25 aos 30g e excede um pouco o limite, no que eu considero dentro de uma faixa de tolerância aceitável.

É claro que ninguém deve focar com tanta precisão nestes números, mas tê-los em mente pode ser de grande valia quando é preciso analisar a quantidade de álcool que estamos ingerindo juntamente com o vinho, e a frequência com que isso ocorre. Observa-se, por exemplo, que uma taça generosa de vinho por dia (1/4 de garrafa) é totalmente aceitável de acordo com o critério do digníssimo Sr. Drauzio Varella. Para algumas pessoas, porém, beber vinho todos os dias da semana é algo que não soa bem mesmo que nos mantenhamos dentro da zona verde. Por outro lado, não vejo problema algum em passar um pouco o sinal em ocasiões esporádicas, como num encontro com os amigos ou numa refeição de especial significado, desde que a isso se siga um breve período de abstinência.

Em suma, tudo se resume a bom senso e equilíbrio. Os desdobramentos do dilema sobre benefícios e malefícios do álcool são muitos, e cada pessoa tem os seus limites e recomendações médicas. Eu tendo a olhar a questão do ponto de vista positivo (resveratrol, substâncias antioxidantes, benefícios cardiovasculares, etc.), e de forma nem tão inocente assim penso que quanto mais bonzinho eu for na dieta alimentar e nos exercícios físicos mais espaço e segurança terei para degustar meus vinhos, espero que por um longo tempo ainda.

Vai uma meia garrafa aí pra comemorar?


E quanto ao meu exame tira-teima, feito pouco mais de um mês depois do susto?

Depois do resultado que me colocou em alerta (culpa das tigelas de sorvete no almoço e das massas com molho de gorgonzola), dediquei-me a fazer tudo como manda o figurino durante pouco mais de um mês. Atividade física continuei fazendo normalmente, nada se alterou nesse quesito. Já na alimentação eu aboli o açúcar, finquei o pé na jaca das saladas, reduzi o tamanho do prato (acertei exatos 300 gramas por quatro dias seguidos no restaurante, sem brincadeira!) e, sim, reduzi o consumo de vinho, tanto na frequência quanto na quantidade.

Como era de se esperar, voltei ao meu normal com uma glicemia em jejum de 103 mg/l, com todos os outros parâmetros associados também apresentando uma boa reduzida. Escapei do diagnóstico de degola e de eventuais medicações, saí do resguardo, a esposa destrancou a adega e voltei à rotina normal de degustações. Mas a atenção quanto à alimentação vai continuar, sendo que manterei o veto de 98% aos doces.

Se você se identificou com minha situação ou quer ler um pouco mais sobre o tema, vão aí alguns links interessantes:
http://www.uvibra.com.br/noticias_5-2006_5.htm
http://www.cisa.org.br/artigo/4405/padroes-consumo-alcool.php
http://www.sofazquemsabe.com/2014/07/definindo-dose-de-alcool-calculando-quantidade-alcool-das-bebidas-alcoolicas.html
http://www.nhs.uk/news/2015/06June/Pages/Drinking-plenty-of-red-wine-wont-help-you-lose-weight.aspx

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Clos de Chacras, Cavas de Crianza Malbec Rosé, Mendoza 2013 (Argentina)

Vinho: Cavas de Crianza Malbec Rosé
Safra: 2013
Região: Mendoza
País: Argentina
Vinícola: Clos de Chacras (http://www.closdechacras.com.ar)


Em Agosto do ano passado minha esposa e eu passamos alguns dias de férias em Mendoza, na Argentina, um dos destinos mais interessantes para os amantes de vinho de todo o mundo. Foi por escolha própria que decidimos visitar produtores menores nos dois dias que reservamos para ir às vinícolas, ou seja, queríamos conhecer as bodegas que fossem pouco ou quase nada conhecidas por aqui.

Uma dessas vinícolas pequenas que visitamos é a Clos de Chacras, que foi também onde almoçamos em nosso primeiro dia de passeio na modalidade com chofer (assim dava para degustar à vontade sem se preocupar com o estado alcoolico ao voltar para o hotel). Durante o almoço em três passos provamos três vinhos, sendo um deles este sobre o qual escrevo agora, que aqui em casa causou tão boa impressão quanto a que tivemos em solo argentino.


Um pouco de história

A Clos de Chacras é uma vinícola familiar qualificada como bodega boutique, localizada no coração do município da Chacras de Coria de Luján de Cuyo. O prédio onde ela está hoje foi originalmente construído em 1921 e pertencia a um grande complexo vitivinícola fundado pela família Gargantini, originária da Suíça italiana e radicada em Mendoza no fim do século 19.

Bautista Gargantini, fundador do complexo, erigiu uma das maiores empresas vitivinícolas do seu tempo. Décadas mais tarde, o edifício mudou de proprietário e caiu no abandono até 1987, quando seus descendentes decidiram recuperar o patrimônio da família.

Atualmente é Silvia Gargantini, neta de Bautista, e seu marido Alejandro Genoud que estão a cargo da Clos de Chacras, cuja primeira safra comercial foi lançada em 2004. A totalidade dos vinhos é elaborada em tanques de concreto com acessórios em aço inoxidável (portas, bocas, camisa isolante, etc.), cuja capacidade individual não ultrapassa os 14.000 litros, sendo o processo de envelhecimento em madeira realizado em adegas subterrâneas com condições naturais de luz e temperatura.

Os vinhos da Clos de Chacras

Trabalhando um pequeno número de rótulos, a Clos de Chacras distribui seus vinhos nas linhas Cavas de Crianza, Ereditá, Gran Estirpe e no recentemente lançado Memórias de Ida. A grande estrela da vinícola é a variedade Malbec, mas além dos blends há também varietais de Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Cabernet Franc. Aqui no Brasil os vinhos são distribuídos pela Mercovino.


O vinho degustado: Cavas de Crianza Malbec Rosé, Mendoza 2013

Uma das coisas que chamam a atenção assim que o vinho vai à taça é a força aromática que ele exibe, um indicativo bastante importante de como a Malbec pode ser trabalhada para produzir um variante rosé. Além de frutas vermelhas frescas, este exemplar da Clos de Chacras exibe nuances de maçã e de brisa mineral, num pacote aromático que imediatamente convida a um bom gole.

Em boca o vinho é seco, sedoso, redondinho e de final breve porém sem amargor, muito gostoso. Por algum motivo o amargor leve é uma característica que sempre identifiquei na maioria dos rosés que provei, e suspeito que isso seja de alguma forma herdado do tratamento dos taninos, na minha opinião um dos aspectos mais delicados na produção de vinhos rosés.

Enfim, como desta vez estava bebendo sozinho eu meio que tive que fazer força para não secar a garrafa inteira. Foi difícil mas consegui. Isso me leva à seguinte pergunta: seria a Malbec uma das variedades que melhor se prestam à fabricação de vinhos rosés?

Está aí algo a investigar...
Nem consigo imaginar o tamanho do sacrifício que terei pela frente!
:)

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Compra pela Internet - Winelands

Há quase um mês atrás recebi um email de divulgação da Winelands que me interessou bastante e finalmente fez com que eu clicasse no link para ver se valia a pena fazer umas comprinhas.

O vinho que me atraiu foi o peruano Intipalka Reserva Cabernet Sauvignon / Syrah, então meio que sem querer decidi averiguar se o desconto para membros se aplicava no meu caso, muito embora eu não seja membro do clube Winelands. Acho que desde que adquiri a segunda unidade do Winesave eu devo ter sido incluído como associado, pois já vinha recebendo esses emails há algum tempo e sim, verifiquei que de fato eu tinha direito aos descontos.

Sendo assim, fui logo peneirando alguns vinhos para completar o valor mínimo que resultaria numa compra com frete grátis. O pedido foi feito no dia 11 de Setembro e a caixa foi recebida em 27 de Setembro. O site não passa informação sobre data de despacho/envio ou faz qualquer menção a prazos de entrega, mas olhando estas datas eu com certeza não tenho nada a reclamar.


Os cinco vinhos vieram muito bem embalados. Como visto nas fotos acima e abaixo, todas as garrafas estavam protegidas por telinha de isopor e por uma camada extra de papelão, além de isopor em cima e embaixo.


Os vinhos adquiridos foram o Merlot AOC Stambolovo 1992, Byzantium Rosso di Valachia Dealu Mare DOC 2013, Intipalka Reserva Cabernet Sauvignon / Syrah 2012, Quercus Rebula 2013 e o Nebbia Verdejo 2014, este último para manter a normalidade num pacote onde as demais garrafas vêm de países cujos vinhos ainda não tive a chance de provar.


Os recursos de navegação e pesquisa do site da Winelands são excelentes, e o clube deles parece ser um dos mais versáteis do mercado. Quem sabe algum dia eu decida entrar. Por ora, a única sugestão que eu faria para melhoria do serviço da empresa seria a inclusão em algum lugar de informações sobre a entrega (datas, prazos, transportadora, etc.).

VEREDITO FINAL: indico e compraria de novo.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Miolo Wine Group, RAR Collezione Gewürztraminer, Campos de Cima da Serra 2011 (Brasil)

Vinho: RAR Collezione Gewürztraminer
Safra: 2011
Região: Campos de Cima da Serra
País: Brasil
Vinícola: Miolo Wine Group (http://www.miolo.com.br)


Apesar de minha experiência com a casta ser pífia, as poucas oportunidades que tive de experimentar a Gewürztraminer foram bem agradáveis. Confesso que tinha poucas expectativas com relação à garrafa desta postagem, muito em parte devido à safra já um pouco avançada e à prova não tão empolgante do RAR Collezione Viognier que veio no mesmo pacote.

Mas eu estava enganado.

Como é bom quando nossas expectativas são quebradas da melhor forma possível, não é mesmo?

Um Pouco de História

Apesar de sua impressionante presença de mercado, a Miolo foi fundada há relativamente pouco tempo, tendo iniciado suas atividades no início dos anos 90. A herança do patriarca italiano Giuseppe Miolo foi além do nome da vinícola, que se expandiu nos anos seguintes a atualmente conta com cerca de 40% de market share no mercado nacional de vinhos finos.

A Miolo Wine Group de hoje no Brasil e no mundo (fonte: site da vinícola)

Durante seu plano de expansão, a Miolo adquiriu outras vinícolas e estabeleceu várias parcerias nacionais e internacionais. Em 2006 a empresa passou a ser chamada de Miolo Wine Group, e em 2009, por exemplo, anunciou a compra da Vinícola Almadén, passando a atuar num segmento de mercado em que ainda não participava.

A sede da vinícola fica no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e possui uma estrutura de enoturismo que conta com sala de degustação, visitação às caves e aos parreirais e cursos de degustação. Para muitos é uma visita obrigatória se você estiver conhecendo a região. Eu já estive lá, e você?


Campos de Cima da Serra

Campos de Cima da Serra é uma das regiões produtoras de uvas mais frias e elevadas do Brasil, com 1.000 metros de altitude. O clima é temperado frio, de verões amenos, com temperatura máxima média de 25°C e mínima média de 15°C. No inverno, mais frio pela altitude, a temperatura máxima está em torno de 16°C e a mínima em torno de 7°C, sendo comum a ocorrência de geadas e até mesmo neve.

A aliança da Miolo com o empresário Raul Anselmo Randon resultou na produção dos vinhos RAR, cujas uvas são plantadas em Campos de Cima da Serra e todos os anos seguem para a sede da vinícola, no Vale dos Vinhedos, onde os vinhos são elaborados.


O vinho degustado: RAR Collezione Gewürztraminer, Campos de Cima da Serra 2011

Como informado no contrarrótulo, as uvas que foram usadas na elaboração deste vinho estavam parcialmente atacadas pelo fungo Botrytis cinerea, responsável pela chamada podridão nobre (o fungo seca a uva e extrai a umidade de dentro dela, concentrando em seu interior os açúcares). A ficha de informação do vinho aponta um percentual de 20% de uvas com podridão nobre.

Além do fator acima, o dulçor que se percebe em boca é devido também à interrupção da fermentação alcoolica por intermédio da redução brusca da temperatura, o que preservou o açúcar residual do vinho e lhe deu a característica de demi-seco. Não houve envelhecimento em carvalho, somente em tanques de aço inox por um período de um ano.

Levamos o vinho conosco em noite de rolha livre no restaurante Taberna Portuguesa. Ao ser aberto, exalou aromas frutados e uma leve pegada mineral, muito agradável. A cor era límpida, e não correspondeu nem um pouco ao que eu esperava de um vinho branco de mais idade, um indicativo de que a garrafa poderia ter tranquilamente permanecido na adega por mais algum tempo.

Decidi harmonizá-lo por contraste com a lagosta à pescadora, que leva na receita molho de limão, manteiga e pimentão (depois de uma fantástica porção de rã ao olho e óleo). A presença redonda e equilibrada em boca casou muito bem com ambos os pratos, especialmente o principal, e o dulçor praticamente desapareceu em meio à textura da lagosta.

Vinho muito bom, realmente um espetáculo em se tratando de um branco demi-seco.

sábado, 17 de setembro de 2016

Se a reputação precede o vinho...

Desde que comecei a me envolver mais com o mundo dos vinhos, há pouco mais de um ano e meio, sempre tive por meta variar as garrafas degustadas. Não ficar sempre no mesmo produtor ou região, e se possível ir atrás dos exemplares mais diferenciados que pudesse encontrar. Repetir uma garrafa jamais, pelo menos por um bom tempo.

Sim, sou meio extremista. Eu proibi a esposa de estocar a adega com Casal Garcia, por exemplo.

Por mais incrível que possa parecer, conheci pessoas que pensam o contrário e se mantêm fieis a um único vinho ou a um único estilo de vinho. Compram sempre as mesmas garrafas, às vezes caixas do mesmo vinho, mas não com o intuito nobre de abri-las de maneira compassada para apreciar sua evolução. A ideia é prová-los no dia a dia, e essas pessoas são perfeitamente felizes com algo que lhes é agradável e lhes traz prazer. Sair da rotina é algo que chega quase a doer fisicamente, tamanho é o risco e o medo de tomar algo que não lhes agrade da mesma forma ou na mesma intensidade.

Apesar de valorizar a variedade sempre e continuar buscando degustar vinhos diferenciados, recentemente passei por uma experiência que me fez reavaliar um pouco este conceito, mudando uma mentalidade que com certeza me levou a provar vinhos que talvez não fossem as escolhas mais adequadas para quem está começando.

A ideia é ficar mais ou menos na intersecção, se é que vocês me entendem

Alguém duvida que os melhores jogadores de basquete atuem nos Estados Unidos, que os melhores chocolates são produzidos na Suíça, que o melhor pequi é o que vem de Goiás, que o melhor serviço de streaming atual é a Netflix ou que os melhores frutos do mar são aqueles preparados frescos? Ainda que algumas pessoas discordem dessas afirmações, a probabilidade é que para a maioria elas sejam verdades consolidadas, seguras, contra as quais fica difícil oferecer argumentos contrários.

Pois assim são também muitos aspectos no mundo do vinho. Ir contra eles significa colocar-se em risco, trilhar um caminho não tão seguro e incorrer numa maior probabilidade de erro. Onde devemos ir para provar os melhores Pinot Noir? Na Borgonha, claro. É na Espanha que podemos encontrar as melhores garrafas de Tempranillo, mas onde estarão os melhores Rieslings? Se alguém disser algo diferente de Alsácia e Alemanha está com certeza muito equivocado. As melhores garrafas de Carménère não estariam exclusivamente no Chile? Alguém consegue imaginar algum outro país produzindo Nebbiolo e Barbera com a mesma consistência com que essas variedades são trabalhadas no Piemonte?

O caminho mais racional para entender um estilo de vinho ou uma variedade de uva é buscar por produtos cuja reputação os precede.

A probabilidade de provar um excelente Touriga Nacional, por exemplo, é muito maior com um exemplar português do que com uma garrafa norteamericana. Isso absolutamente não significa que os EUA sejam incapazes de produzir bons Tourigas, mas no universo vitivinícola como um todo essa é uma aposta arriscada para qualquer enófilo que busca escolher as melhores garrafas para sua adega.


Caso em questão: Tannat. Casta originária da França e conhecida por ser casca grossa (literalmente) e pelos taninos agressivos, a Tannat foi difundida em diversos outros países mas todas as fontes apontarão que foi no Uruguai que ela melhor se adaptou. O sucesso foi tamanho que nosso pequeno vizinho fez campanha para que a Tannat fosse reconhecida como sua casta emblemática. E conseguiu.

Deve-se esperar, portanto, que os melhores Tannats sejam provenientes do Uruguai. Principalmente no quesito custo-benefício, uma vez que os exemplares provenientes da AOC Madiran, na França, são vendidos por aqui a preços proibitivos (e assim a uva vai seguindo o mesmo caminho já trilhado pela Malbec e pela Carmenere).

Para ratificar o exposto, exponho abaixo fotos da pequena overdose que tive de Tannat há algumas semanas atrás, em ordem cronológica. A amostragem não foi tão abrangente e nem o calibre dos vinhos tão elevado, mas ficou evidente para mim que os mais equilibrados foram realmente os uruguaios.

Montes Toscanini, Reserva Familiar Tannat, Canelones 2015 (Uruguai)

Vinho jovem de corpo leve, mas o que lhe falta de densidade sobra na textura equilibrada, um caldo aveludado com olfato de amoras e sem qualquer indício de taninos. A influência do carvalho ao final da fermentação foi mínima e na minha opinião ideal. Fantástico vinho, pelo que entrega e também por quanto custa (um dos mais baratos da carta do Madero Steakhouse de Cuiabá).

Bodega Garzón, Garzón Tannat, Maldonado 2013 (Uruguai)

Vinho de boa tipicidade, com ótima estrutura de taninos e o esperado leque aromático de frutas negras sinalizado pela coloração rubi escura. O restante da garrafa ficou ainda melhor depois de um tempo de descanso intermediário.

Establecimiento Juanicó, Don Pascual Varietal Tannat, Canelones 2015 (Uruguai)

Mais um Tannat de corpo leve, que desceu macio. Desconsiderando o exemplar Reservado comercializado em terras tupiniquins, esse é o rótulo de entrada da Família Deicas / Juanicó, e chama a atenção pela maciez em boca.

Bodegas El Esteco, Michel Torino Colección Tannat, Salta 2012 (Argentina)

Esse eu procurei de birra, para fugir do eixo Brasil-Uruguai que domina o mercado nacional. O olfato é de frutas negras maduras, com um pouco de chocolate e tabaco e presença sutil de madeira no paladar, além de acidez bem presente. Não tão equilibrado quanto os anteriores, mas ainda assim agradável.

Pizzato Vinhas e Vinhos, Fausto Tannat, Serra Gaúcha 2014 (Brasil)

Este aqui foi marcado por uma presença mais acentuada de carvalho já no olfato, além de taninos dispersos que encobrem a característica frutada e deixam o vinho mais rústico.

Coop. Viníciola Aurora, Aurora Reserva Tannat, Serra Gaúcha 2014 (Brasil)

Até hoje o melhor Tannat brasileiro que provei. Olfato intenso de fruta madura como ameixa e amoras, paladar de textura suave e taninos finos, num vinho saboroso com ótimo equilíbrio em boca. Dentro da linha Aurora Reserva, este Tannat foi a variedade que mais me agradou. E também foi a única garrafa deste grupo que foi capaz de fazer frente aos exemplares uruguaios.


Obviamente ainda estou por provar garrafas de Tannat mais potentes, e a oportunidade com certeza chegará. Os que vieram antes destes foram quase todos brasileiros, e admito que nenhum deles tocou meu paladar como eu esperei que tivessem tocado. Ui!

Vão por mim, as aventuras podem ser agradáveis também, mas se quiserem conhecer a Tannat de maneira mais racional ou simplesmente não errar na escolha de garrafa, optem por um vinho uruguaio.

Saúde e um grande abraço a todos!