quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Vinhos de Bicicleta, seleção Liberté - Uma Retrospectiva para 2016

Com a notícia de que a Wine.com iria novamente repetir uma vinícola no mês de Fevereiro em sua categoria intermediária, acabei tomando a decisão de sair do ClubeW. E para manter uma pequena fonte de vinhos diferenciados todos os meses acabei optando pela seleção Liberté do Clube Vinhos de Bicicleta, que tem uma proposta bacana e pelo que pude perceber é similar em qualidade ao ClubeW Classic.

Recapitularei agora rapidamente todas as seleções do ano de 2016.

Janeiro - RJ Viñedos (Argentina), Lidio Carraro (Brasil)
  → Joffré Expresiones de Terroir Chardonnay, Mendoza 2014
  → Avesso Vinho de Autor, Serra Gaúcha 2014

Ambos os vinhos se mostraram bem agradáveis, em especial o Avesso por este ser um assemblage de Tannat e Pinot Noir, duas castas de características francamente antagônicas. Textura e corpo leves, o que significa predomínio final da Pinot, com olfato de framboesa evoluindo para morangos e fim de boca breve.

Avesso Vinho de Autor, Serra Gaúcha 2014

Fevereiro - MGM Mondo del Vino (Itália)
  → Mandorla Primitivo, Puglia IGT 2014
  → Mandorla Pinot Grigio delle Venezie IGT 2014

Dois italianos interessantes. O Primitivo se mostrou mais sutil que a maioria das garrafas da casta que se encontra no mercado, com presença em nariz e boca de especiarias, frutas secas e cereja. Quanto ao Pinot Grigio, harmonizei-o com sushi: leve, delicado, de boa acidez, olfato marcado por nuances de pêra.

Mandorla Primitivo, Puglia IGT 2014

Março - Badia di Morrona (Itália), Ego Bodegas (Espanha)
  → Rosso dei Poggi, Toscana IGT 2014
  → Marionette, DO Jumilla 2012

Com 85% de Sangiovese e 15% de outras uvas, o Rosso dei Poggi foi um dos vinhos mais fechados que provei esse ano. Confesso que tentei ter paciência com ele, mas essa foi uma daquelas garrafas em que a única característica que pareceu emanar da taça foi o álcool. Com partes iguais de Mourvédre e Syrah, o Marionette já agradou bem mais, incluindo aí uma boa presença de carvalho em meio à baunilha e às frutas negras, num vinho vibrante de médio corpo.

Marionette, Jumilla DO 2012

Abril - Azienda Agricola Montechiaro (Itália), Puntí Ferrer (Chile)
  → Monte Chiaro Saltimbanco Rosso di Toscana IGT 2013
  → Cantagua Carmenere, Valle de Curicó 2014

Levei um susto quando abri o Saltimbanco para acompanhar uma rodada de queijos e pães. Por algum motivo que até hoje me intriga o vinho estava inerte, sem qualquer odor ou sabor, como se estivesse morto. Ao invés de jogá-lo fora decidi guardá-lo para ver como estaria no dia seguinte, e não é que ele ficou palatável? Mistério...

O Cantagua Carménère se mostrou opulento e maduro no nariz carregado de amoras e ameixas, porém de paladar um pouco etéreo com taninos salientes.

Monte Chiaro Saltimbanco Rosso di Toscana IGT 2013

Maio - Fattoria La Casaccia (Itália), Quinta Vale de Fornos (Portugal)
  → Gugu, Toscana Rosso IGT 2013
  → Vinha do General, DO Tejo 2013

Há algum tempo atrás escrevi sobre o Gugu aqui mesmo no blogue, então vou dar um repeteco nas anotações sensoriais: o blend é composto por 85% Sangiovese e 15% Merlot com bom olfato frutado para um caldo ainda jovem, que se mostrou um pouco verde em boca mas evoluiu bem na taça degustada fora de casa.

O Vinha do General, por sua vez, foi o primeiro exemplar que provei da região do Tejo. Composto por partes iguais de Castelão e Syrah, o vinho é frutado, com acidez presente e leves toques de cera e violeta. Persistência breve.

Vinha do General Tinto, VR Tejo 2013

Junho - Vinícola Helios (Brasil)
  → Dórico Merlot, Serra Gaúcha 2013
  → Corcéis Tannat, Serra Gaúcha 2013

Escolhida como primeiro ponto de distribuição dos produtos da Helios em São Paulo, a Vinhos de Bicicleta apresentou dois exemplares marcados pela presença poderosa de madeira no processo de amaciamento dos vinhos, ambos muito bons. Ao contrário dos demais exemplares da vinícola, que são produzidos em São Joaquim, estes vêm diretamente da Serra Gaúcha (Guaporé).

Corcéis Tannat, Serra Gaúcha 2013

Julho - Domaine du Père Guillot (França)
  → Pisada Cuvée, Vin de la Communauté Européenne 2014
  → Saint-Palatins Tradition de Vignerons, Vin de la Communauté Européenne 2014

Ambas as garrafas são 100% Tempranillo, vinificadas em solo francês com uvas provenientes de terroir espanhol. Por isso a denominação regional de vinho da comunidade europeia (Vin de la Communauté Européenne). Parece suspeito, não? Principalmente porque não existe informação alguma sobre esses vinhos no site da vinícola. Não que haja algo de errado com eles; por enquanto o único que provei foi o Pisada, um caldo com muita fruta madura e textura contraditoriamente leve.

Pisada Cuvée, Vin de La Communauté Européenne 2014

Agosto - The Wine People (Itália)
  → Colpasso Primitivo, Puglia IGP 2013
  → Colpasso Nero D'Avola, Terre Siciliane IGP 2014

Vinhos leves e mais joviais que os que podem ser encontrados no mercado nacional para as mesmas uvas. O Nero D'Avola, em específico, se mostrou bem maduro no olfato, que exibe bons níveis de fruta negra, ameixa e compotado, seguido por paladar de taninos finos, persistência média e boa acidez.

Colpasso Nero D'Avola, Terre Siciliane IGP 2014

Setembro - Vinos del Sur (Chile)
  → Casa Diego Reserva Syrah, DO Valle de Itata 2013
  → Casa Diego Reserva Pinot Noir, DO Valle de Itata 2013

Alguns dos melhores rótulos chilenos dos últimos anos são provenientes do Valle de Itata. Infelizmente, o único vinho que provei até o momento dessa seleção não agradou muito. O Syrah veio com acidez inicial muito forte, característica que desaponta após os agradáveis aromas de frutas negras e nectarina. O desequilíbrio foi amaciado um pouco com um tempinho em taça e comida, mas fica a esperança de que a degustação do Pinot Noir seja mais bem-sucedida.

Casa Diego Reserva Syrah, DO Valle de Itata 2013

Outubro - Badia di Morrona (Itália), Casa da Fonte Pequena (Portugal)
  → Caligiano Chianti DOCG Edizione Speciale Vinhos de Bicicleta, Toscana 2013
  → Alto da Vila Tinto, Douro DOC 2011

Por enquanto a única garrafa apreciada foi o Chianti rotulado especialmente para o clube. Ao contrário do tinto toscano do mês de Março, dessa vez a Badia di Morrona / Gaslini Alberti foi muito mais de encontro ao meu paladar: olfato de framboesa, cereja e amoras, com boa textura e fim de boca delicado. Foi muito bem harmonizado com espaguete à bolonhesa e uma singela tábua de queijos.

Caligiano Chianti DOCG Edizione Speciale Vinhos de Bicicleta, Toscana 2013

Novembro - Vinícola Trambusti (Itália), Cantine Manfredi (Itália)
  → Zipolino Rosso, Toscana IGT 2015
  → Castelvecchio Barbera, Piemonte DOC 2015

Ainda não provei nenhum dos dois. A composição do Zipolino leva 95% de Sangiovese, o que já é uma excelente notícia para mim. Quanto ao Barbera da DOC Piemonte, a esperança é que a simplicidade ande de mãos dadas com a qualidade.


Dezembro - Società Agricola Randi (Itália), Vinhedos Capoani (Brasil)
  → Rambëla Extra Dry, Emilia-Romagna
  → Capoani Merlot/Tannat, Vale dos Vinhedos 2013

Duas incógnitas que têm boa chance de surpreender. O espumante é feito pelo método Charmat a partir de 100% Rambëla, uva autóctone que na região de Ravenna na Emilia-Romagna tem ainda a alcunha de Famoso. Já o blend de Merlot/Tannat vem de uma vinícola butique na Serra Gaúcha cujas primeiras safras datam de 2010. As expectativas são boas para ambas as garrafas.


De modo geral, os exemplares de 2016 da categoria Liberté agradaram, com duas ou três garrafas que até agora decepcionaram. Muito me alegrou o percentual de rótulos italianos e a inclusão de um espumante diferenciado para o período de fim de ano, só faltou mesmo um pouco mais de vinho branco no segundo semestre.

Comparativamente, o Clube Vinhos de Bicicleta não tem nada do valor agregado em revista ou da interatividade proporcionada pelo site da Wine.com. As seleções vêm acompanhadas somente por um folheto impresso com informações sobre os vinhos (as mesmas que são divulgadas no website), e nenhum recurso de feedback existe para as opiniões dos clientes internautas (o que no final das contas pode ser algo positivo, vide o amontoado de baboseiras que infesta as seções de comentários do ClubeW).

Para o próximo ano minha intenção é migrar para a categoria superior do clube, a Fraternité.

Por enquanto, um forte abraço a todos os leitores e saúde!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Compra pela Internet - Weinkeller

Há tempos eu queria provar um Pinot Noir alemão, mas como é impossível encontrar por aqui uma garrafa do Spätburgunder (nome da uva no idioma germânico) acabei procurando por uma loja online que pudesse aplacar meu desejo.

Acabei encontrando o endereço da Weinkeller, que até onde sei é a única importadora no Brasil especializada exclusivamente em vinhos alemães. A empresa possui loja física no bairro Jardins, centro de São Paulo, porém o portfólio para vendas online é bem reduzido, e de acordo com eles composto por vinhos produzidos por vinícolas orgânicas e biodinâmicas de pequeno porte das principais regiões da Alemanha.

O pedido foi realizado em 31 de Outubro, sendo a entrega feita em pouco mais de uma semana, no dia 9 de Novembro. Enfim, serviço de entrega nota 10.


Embalagem boa, vinhos bem acomodados.


Além do Spätburgunder da Weingut Michel, pedi também um Grauburgunder (Pinot Grigio), dois Rieslings e um Merlot. Todos vieram conforme as especificações do site, com exceção do Merlot, que chegou com uma safra dois anos mais recente.

Falando em especificações, um dos aspectos mais interessantes e bacanas do site e dos vinhos importados pela Weinkeller é que são fornecidos dados claros sobre a acidez e o teor de açúcar residual de cada garrafa, algo que no caso dos vinhos alemães é extremamente importante. Principalmente para quem tem dificuldade em compreender a sua intrincada classificação.


Por fim, o serviço de atendimento ao cliente via email foi bem cordial.

Um observação: fui verificar hoje e notei que todos os endereços da Weinkeller estão sendo redirecionados para a loja virtual. Não é mais possível ver o conteúdo que estava no site há até pouco tempo, que trazia dados bacanas sobre as vinícolas e sobre os vinhos alemães em geral.

VEREDITO FINAL: indico e compraria de novo.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Encheu! E agora?

Meu primeiro depósito de rolhas encheu!


E agora, José?

Estive olhando outros modelos para continuar a guardar as rolhas, mas não cheguei a nenhum que gostasse de fato.

Sugestões?

Nota: por enquanto as tampas de rosca estão tranquilas...

sábado, 10 de dezembro de 2016

De Firulas e Floreios

Ah, o inescrutável mundo do vinho, antes impenetrável, hoje não mais um mistério tão grande.

Além de todos os aspectos práticos que já absorvi, posso também dizer que fui capaz de desencanar de várias coisas que antes não me deixavam muito à vontade como, por exemplo, o medo de provar uma garrafa de safra mais antiga (bebe logo, deve estar estragado!), a neura em torno do serviço (nem sempre é preciso taça), a fleuma deselegante (nem todas as situações exigem ritual), o preconceito contra vinhos de mesa (ora bolas, são feitos de uvas também), o preconceito contra as garrafas de supermercado (nada lá presta!) ou a famigerada relação qualidade-preço (é possível ter muita satisfação com vinho abaixo de R$ 50), entre outros.

Mas uma das coisas mais importantes das quais desencanei foi dar excessiva importância às avaliações em massa de vinhos feitas por veículos especializados ou pseudo-especializados. Passei a criar minhas próprias expectativas de uma forma mais independente, nunca compassiva e às vezes por demais inquisitiva.

Não é raro eu me desapontar ou rir com o excesso de firulas que muitos veículos de comunicação utilizam para descrever ou avaliar vinhos. As conotações associativas, as qualificações subjetivas e os floreios sem sentido prático são o que mais me causam espanto. Como se não bastasse a ênfase enfadonha sobre a cor universal do vinho tinto (rubi com reflexos violáceos!), às vezes há um excesso de descritores aromáticos e gustativos que nada mais fazem que desanimar quem está começando a gostar ou tentando entender um pouco desse mundo.


Fato: para a esmagadora maioria das pessoas o vinho tem cheiro e gosto de vinho, pronto. Com alguma persistência e boa vontade do bebedor, depois de algum tempo o paladar evolui e surgem associações organolépticas que devem ser evidentes e esperadas. E pronto, chega.

Se o vinho lembra as frutas do pomar da vovó, a brisa do mar de Noronha, o brioche de um café da Champs-Élysées ou a grama molhada dos jardins suspensos de Alto Coité, isso fica totalmente a cargo de quem está bebendo aquela garrafa, naquele momento e naquelas circunstâncias específicas. Infelizmente, ainda tem gente que ao ler esse tipo de coisa pensa que vai experimentar essas sensações quando abrir aquela /preciosa/ garrafa agraciada com os /imbatíveis/ 98 pontos by Robert Parker. E essas pessoas caem do cavalo feio, para imediatamente em seguida se sentirem nas nuvens com um Concha y Toro Reservado degustado na varanda de casa enquanto se joga conversa fora com o vizinho.

Você já foi levado por alguma onda de entusiasmo e se decepcionou com um vinho? Eu já. E continuo sempre lutando para não passar novamente por tal constrangimento interno. Porque, sabem como é, a vergonha meio que não nos deixa verbalizar a confusão e o desapontamento, e acaba fazendo com que muita gente não consiga desenvolver um paladar próprio.


Enfim...

Para não polarizar minhas expectativas de maneira equivocada, não leio mais as avaliações descritivas que são feitas em lote por revistas e veículos especializados. Por outro lado, sempre que posso procuro lê-las depois que já degustei determinado vinho, afinal é sempre mais interessante conferir outros pontos de vista sobre algo que você já conhece.

Nada contra os profissionais que são pagos para redigirem os textículos em lote ou contra as pessoas que ali acreditam haver real valor, porém depois de algum tempo tornou-se inevitável a sensação de que estou diante de um rodízio de resenhas esotéricas/astrológicas que se alternam a cada cinco luas. Na minha opinião é muito mais proveitoso se informar acerca do produtor e dos métodos que ele utiliza em seus processos, assim como os cuidados que ele demonstra com os vinhos que coloca no mercado. Informações objetivas, reportagens e artigos bem escritos, sem (excessiva) perfumaria. Além disso, as melhores referências sempre serão aquelas que saem do lugar-comum e vêm com algum contexto sincero, incluindo aí opiniões bem ponderadas de amigos e conhecidos.

De contrarrótulos sem-vergonha e descrições safadas de marketing o mundo do vinho está cheio, e sinceramente acredito que isso influi na manutenção da aura de esnobismo que cerca a bebida na mesma medida (ou até mais) que os constantes aumentos de preços/impostos.