quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O vinho e a (minha) saúde

Há alguns meses atrás levei um susto ao pegar o resultado dos meus exames de rotina.

A taxa glicêmica de jejum, índice que mede a quantidade de açúcar no sangue, bateu nos 128 mg/litro. Para quem entende, este número está acima do limite atualmente estabelecido como um dos três fatores usados no diagnóstico de diabetes. Além da glicemia alta, outro parâmetro que estava alterado era o nível de triglicérides, o que faz sentido pois glicemia e triglicérides meio que andam de mãos dadas.

Por ser uma bebida que possui álcool, o vinho é calórico. Calorias aumentam o nível de glicemia e triglicérides. E uma esposa preocupada tranca a adega com um cadeado depois de um exame com resultado desses...

É fato que eu sempre tive glicemia limítrofe, variando em torno dos 100 mg/litro. Como apreciador inveterado de vinhos, quando a luz vermelha do exame acendeu eu logo me lancei numa pesquisa para compreender como seria possível administrar a quantidade de álcool que estou ingerindo de forma a garantir a segurança de meu hedonismo enófilo, para qualquer eventual necessidade.

Chegamos, portanto, ao motivo de porque estou a divagar sobre minha saúde.


Dourar a própria pílula é algo natural para qualquer ser humano, mas às vezes é preciso ser racional. O vinho, mesmo com todas as presumidas vantagens que possui para a saúde quando consumido com moderação, é uma bebida que tem álcool e açúcar em sua composição. A boa notícia é que o teor de açúcar no vinho pode ser desprezado. E quanto ao álcool? Todos sabem que o álcool, quando consumido em excesso, é prejudicial à saúde no curto, no médio e no longo prazo.

Praticamente todas as informações médicas sobre a relação entre álcool e perturbações glicêmicas (das quais a pior é a diabetes) se desencontram em algum momento. Umas fontes dizem que pode, outras dizem que não. Umas exaltam os benefícios do vinho para o coração e para o controle do colesterol, outras alegam que os malefícios superam os alegados benefícios. O único ponto em comum na maioria dos artigos é que o consumo de álcool deve ser moderado, seja ele no vinho, no uísque ou na cerveja.


De acordo com o Sr. Dráuzio Varella, 25g de álcool por dia é a linha de corte entre o consumo moderado e o consumo não moderado de álcool, uma quantidade que é responsável por aportar cerca de 175 kcal ao organismo humano. 25 gramas de álcool equivale a aproximadamente 3 doses, sendo que 1 (uma) dose de álcool corresponde à quantidade aproximada que o organismo de um adulto médio consegue processar em uma hora, ou seja, após decorrida 1 hora de ingestão desta dose pouco ou nenhum álcool será deixado no sangue de um adulto. Nota: mulheres devem cortar estas quantidades pela metade.

Eu costumo medir meu vinho por garrafa, meia garrafa e taça, sendo que cada garrafa rende quatro taças bem servidas. Sabendo que a densidade do álcool é de 0,8 g/ml, apresento a seguinte tabela que mostra a quantidade de álcool presente numa garrafa e em suas frações, tanto em volume quanto em massa para cada grau de teor alcoolico:

187ml
1/4 de garrafa
(1 taça bem servida)
250 ml
1/3 garrafa
(2 taças rasas)
375 ml
1/2 garrafa
   
750 ml
garrafa inteira
   
9%16,9 ml / 13,5 g22,5 ml / 18 g33,8 ml / 27 g67,5 ml / 54 g
10%18,8 ml / 15,0 g25,0 ml / 20 g37,5 ml / 30 g75,0 ml / 60 g
11%20,6 ml / 16,5 g27,5 ml / 22 g41,3 ml / 33 g82,5 ml / 66 g
12%22,5 ml / 18,0 g30,0 ml / 24 g45,0 ml / 36 g90,0 ml / 72 g
13%24,4 ml / 19,5 g32,5 ml / 26 g48,8 ml / 39 g97,5 ml / 78 g
14%26,3 ml / 21,0 g35,0 ml / 28 g52,5 ml / 42 g105,0 ml / 84 g
15%28,1 ml / 22,5 g37,5 ml / 30 g56,3 ml / 45 g112,5 ml / 90 g

Observa-se claramente pela tabela onde estão as áreas seguras e as áreas onde se considera que o consumo de vinho/álcool está acima do moderado. Tomei a liberdade de marcar uma zona cinza, que vai dos 25 aos 30g e excede um pouco o limite, no que eu considero dentro de uma faixa de tolerância aceitável.

É claro que ninguém deve focar com tanta precisão nestes números, mas tê-los em mente pode ser de grande valia quando é preciso analisar a quantidade de álcool que estamos ingerindo juntamente com o vinho, e a frequência com que isso ocorre. Observa-se, por exemplo, que uma taça generosa de vinho por dia (1/4 de garrafa) é totalmente aceitável de acordo com o critério do digníssimo Sr. Drauzio Varella. Para algumas pessoas, porém, beber vinho todos os dias da semana é algo que não soa bem mesmo que nos mantenhamos dentro da zona verde. Por outro lado, não vejo problema algum em passar um pouco o sinal em ocasiões esporádicas, como num encontro com os amigos ou numa refeição de especial significado, desde que a isso se siga um breve período de abstinência.

Em suma, tudo se resume a bom senso e equilíbrio. Os desdobramentos do dilema sobre benefícios e malefícios do álcool são muitos, e cada pessoa tem os seus limites e recomendações médicas. Eu tendo a olhar a questão do ponto de vista positivo (resveratrol, substâncias antioxidantes, benefícios cardiovasculares, etc.), e de forma nem tão inocente assim penso que quanto mais bonzinho eu for na dieta alimentar e nos exercícios físicos mais espaço e segurança terei para degustar meus vinhos, espero que por um longo tempo ainda.

Vai uma meia garrafa aí pra comemorar?


E quanto ao meu exame tira-teima, feito pouco mais de um mês depois do susto?

Depois do resultado que me colocou em alerta (culpa das tigelas de sorvete no almoço e das massas com molho de gorgonzola), dediquei-me a fazer tudo como manda o figurino durante pouco mais de um mês. Atividade física continuei fazendo normalmente, nada se alterou nesse quesito. Já na alimentação eu aboli o açúcar, finquei o pé na jaca das saladas, reduzi o tamanho do prato (acertei exatos 300 gramas por quatro dias seguidos no restaurante, sem brincadeira!) e, sim, reduzi o consumo de vinho, tanto na frequência quanto na quantidade.

Como era de se esperar, voltei ao meu normal com uma glicemia em jejum de 103 mg/l, com todos os outros parâmetros associados também apresentando uma boa reduzida. Escapei do diagnóstico de degola e de eventuais medicações, saí do resguardo, a esposa destrancou a adega e voltei à rotina normal de degustações. Mas a atenção quanto à alimentação vai continuar, sendo que manterei o veto de 98% aos doces.

Se você se identificou com minha situação ou quer ler um pouco mais sobre o tema, vão aí alguns links interessantes:
http://www.uvibra.com.br/noticias_5-2006_5.htm
http://www.cisa.org.br/artigo/4405/padroes-consumo-alcool.php
http://www.sofazquemsabe.com/2014/07/definindo-dose-de-alcool-calculando-quantidade-alcool-das-bebidas-alcoolicas.html
http://www.nhs.uk/news/2015/06June/Pages/Drinking-plenty-of-red-wine-wont-help-you-lose-weight.aspx

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Clos de Chacras, Cavas de Crianza Malbec Rosé, Mendoza 2013 (Argentina)

Vinho: Cavas de Crianza Malbec Rosé
Safra: 2013
Região: Mendoza
País: Argentina
Vinícola: Clos de Chacras (http://www.closdechacras.com.ar)


Em Agosto do ano passado minha esposa e eu passamos alguns dias de férias em Mendoza, na Argentina, um dos destinos mais interessantes para os amantes de vinho de todo o mundo. Foi por escolha própria que decidimos visitar produtores menores nos dois dias que reservamos para ir às vinícolas, ou seja, queríamos conhecer as bodegas que fossem pouco ou quase nada conhecidas por aqui.

Uma dessas vinícolas pequenas que visitamos é a Clos de Chacras, que foi também onde almoçamos em nosso primeiro dia de passeio na modalidade com chofer (assim dava para degustar à vontade sem se preocupar com o estado alcoolico ao voltar para o hotel). Durante o almoço em três passos provamos três vinhos, sendo um deles este sobre o qual escrevo agora, que aqui em casa causou tão boa impressão quanto a que tivemos em solo argentino.


Um pouco de história

A Clos de Chacras é uma vinícola familiar qualificada como bodega boutique, localizada no coração do município da Chacras de Coria de Luján de Cuyo. O prédio onde ela está hoje foi originalmente construído em 1921 e pertencia a um grande complexo vitivinícola fundado pela família Gargantini, originária da Suíça italiana e radicada em Mendoza no fim do século 19.

Bautista Gargantini, fundador do complexo, erigiu uma das maiores empresas vitivinícolas do seu tempo. Décadas mais tarde, o edifício mudou de proprietário e caiu no abandono até 1987, quando seus descendentes decidiram recuperar o patrimônio da família.

Atualmente é Silvia Gargantini, neta de Bautista, e seu marido Alejandro Genoud que estão a cargo da Clos de Chacras, cuja primeira safra comercial foi lançada em 2004. A totalidade dos vinhos é elaborada em tanques de concreto com acessórios em aço inoxidável (portas, bocas, camisa isolante, etc.), cuja capacidade individual não ultrapassa os 14.000 litros, sendo o processo de envelhecimento em madeira realizado em adegas subterrâneas com condições naturais de luz e temperatura.

Os vinhos da Clos de Chacras

Trabalhando um pequeno número de rótulos, a Clos de Chacras distribui seus vinhos nas linhas Cavas de Crianza, Ereditá, Gran Estirpe e no recentemente lançado Memórias de Ida. A grande estrela da vinícola é a variedade Malbec, mas além dos blends há também varietais de Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Cabernet Franc. Aqui no Brasil os vinhos são distribuídos pela Mercovino.


O vinho degustado: Cavas de Crianza Malbec Rosé, Mendoza 2013

Uma das coisas que chamam a atenção assim que o vinho vai à taça é a força aromática que ele exibe, um indicativo bastante importante de como a Malbec pode ser trabalhada para produzir um variante rosé. Além de frutas vermelhas frescas, este exemplar da Clos de Chacras exibe nuances de maçã e de brisa mineral, num pacote aromático que imediatamente convida a um bom gole.

Em boca o vinho é seco, sedoso, redondinho e de final breve porém sem amargor, muito gostoso. Por algum motivo o amargor leve é uma característica que sempre identifiquei na maioria dos rosés que provei, e suspeito que isso seja de alguma forma herdado do tratamento dos taninos, na minha opinião um dos aspectos mais delicados na produção de vinhos rosés.

Enfim, como desta vez estava bebendo sozinho eu meio que tive que fazer força para não secar a garrafa inteira. Foi difícil mas consegui. Isso me leva à seguinte pergunta: seria a Malbec uma das variedades que melhor se prestam à fabricação de vinhos rosés?

Está aí algo a investigar...
Nem consigo imaginar o tamanho do sacrifício que terei pela frente!
:)

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Compra pela Internet - Winelands

Há quase um mês atrás recebi um email de divulgação da Winelands que me interessou bastante e finalmente fez com que eu clicasse no link para ver se valia a pena fazer umas comprinhas.

O vinho que me atraiu foi o peruano Intipalka Reserva Cabernet Sauvignon / Syrah, então meio que sem querer decidi averiguar se o desconto para membros se aplicava no meu caso, muito embora eu não seja membro do clube Winelands. Acho que desde que adquiri a segunda unidade do Winesave eu devo ter sido incluído como associado, pois já vinha recebendo esses emails há algum tempo e sim, verifiquei que de fato eu tinha direito aos descontos.

Sendo assim, fui logo peneirando alguns vinhos para completar o valor mínimo que resultaria numa compra com frete grátis. O pedido foi feito no dia 11 de Setembro e a caixa foi recebida em 27 de Setembro. O site não passa informação sobre data de despacho/envio ou faz qualquer menção a prazos de entrega, mas olhando estas datas eu com certeza não tenho nada a reclamar.


Os cinco vinhos vieram muito bem embalados. Como visto nas fotos acima e abaixo, todas as garrafas estavam protegidas por telinha de isopor e por uma camada extra de papelão, além de isopor em cima e embaixo.


Os vinhos adquiridos foram o Merlot AOC Stambolovo 1992, Byzantium Rosso di Valachia Dealu Mare DOC 2013, Intipalka Reserva Cabernet Sauvignon / Syrah 2012, Quercus Rebula 2013 e o Nebbia Verdejo 2014, este último para manter a normalidade num pacote onde as demais garrafas vêm de países cujos vinhos ainda não tive a chance de provar.


Os recursos de navegação e pesquisa do site da Winelands são excelentes, e o clube deles parece ser um dos mais versáteis do mercado. Quem sabe algum dia eu decida entrar. Por ora, a única sugestão que eu faria para melhoria do serviço da empresa seria a inclusão em algum lugar de informações sobre a entrega (datas, prazos, transportadora, etc.).

VEREDITO FINAL: indico e compraria de novo.