terça-feira, 22 de maio de 2018

Da quilometragem enófila

Uma das grandes verdades sobre o nosso hobby — a enofilia — é o inegável prazer que ele nos proporciona. Prazer em vários níveis, sob as mais diversas condições econômicas e dentro das mais variadas expectativas pessoais, seja ele sensorial (o barato da degustação e da harmonização), cultural (o aprendizado contínuo), geográfico (as viagens) ou social (as amizades).

Para todos os que gostam de vinho é fascinante ler e se informar sobre esse universo, mas a verdade maior é que para aprender de fato sobre vinhos é preciso bebê-los. E quanto mais bebemos e degustamos, mais aumenta nossa quilometragem enófila.

Vira e mexe é bom analisarmos o que aprendemos nos últimos tempos, e para quais novas preferências ou velhas constatações apontam nossas experiências. Está aí um exercício que vale a pena fazer, mesmo que seja virtualmente impossível abraçar todos os vinhos produzidos no mundo (para isso teríamos que ganhar na Mega Sena, parar de trabalhar e viver viajando, em degustações diárias no café da manhã, no almoço e no jantar).

Já pensou em uma mesa como essa em cada refeição?
Crédito: @andrew_wilcocks (Twitter)

Afinal, a quantas anda nossa quilometragem enófila?

Tudo bem que diminuí o ritmo de publicações nesse blogue durante os meses recentes, mas com certeza não diminuí a quantidade de degustações. Coloco a seguir, portanto, algumas das constatações que tenho feito desde as elucubrações iniciais de alguns anos atrás.

• Vinhos do velho mundo são melhores que vinhos do novo mundo. Por quê? Em sua grande maioria eles são mais harmoniosos, elegantes e saborosos. Simples assim.

• O país que entrega os vinhos mais consistentes é, sem dúvida, Portugal. Seja nas garrafas mais singelas ou nos maiores ícones, os vinhos portugueses raramente decepcionam.

• Devido às grandes distâncias que precisam viajar para chegar até nós brasileiros, os vinhos do velho mundo se degradam mais rápido que os demais. Sempre, SEMPRE devemos procurar a safra mais recente deles, fugindo das promoções e desovas de safras antigas, principalmente em supermercados.

• Novamente, os vinhos mais resistentes às grandes viagens são os portugueses. Seria algo relacionado à logística lusitana ou seria influência de suas robustas castas autóctones?

Garantia de coisa boa, ora pois pois!

• Vinho branco NUNCA será considerado bebida "digna de homem" nesse país. Em discussões ou reuniões de clube do Bolinha nem adianta tentar empurrar vinho branco. Vinho rosé então...

• Falando em brancos, a Viognier é uma casta fantástica e deveria ser melhor conhecida por todos.

• Tenho desenvolvido uma simpatia cada vez maior pela Merlot, que parece ser de fato o meio-termo mais seguro no mundo dos tintos.

• A melhor finalidade da Malbec são os rosés feitos da partir dela.

• Carvalho continua superestimado.

• É cada vez mais triste constatar como estão caros os bons vinhos feitos de Riesling.

• Já os Beaujolais nunca vão entrar nas faixas de preço às quais verdadeiramente pertencem.

• Dito isso, é abominável a safadeza com que certas distribuidoras/vinícolas usam o marketing para inflacionar os preços de seus vinhos.

Se é caro é bom, se é barato não presta
Uma dica interessante de leitura: How a Wine's Price Tag Affects Its Taste

• A maioria esmagadora dos restaurantes está assassinando a cultura da democratização do vinho com o aumento contínuo de preços em suas cartas. A probabilidade do vinho ser mais difundido em regiões sem cultura enófila é ZERO.

• Está ficando cada vez mais difícil escolher vinhos nas cartas dos restaurantes. Primeiro, porque é sempre mais do mesmo. Segundo, porque querem cobrar preços cada vez maiores por mais do mesmo.

• Rolha livre ou taxa de rolha simbólica é vida.

• Comprar vinhos pela Internet é melhor que comprar em supermercados ou lojas especializadas, seja por diversidade ou por preço.

• Clubes de vinho são alternativas que ainda valem a pena se você não quiser gastar muito.

• Arriscar faz parte e é sempre bom tentar conhecer aquele rótulo mais inusitado, mesmo que no final o resultado seja decepção.


• Felizes são os enófilos que participam de confrarias com gente animada e apaixonada por vinho.

• Beber grandes vinhos em companhia de quem não se importa com vinho é algo que nunca mais farei na vida. Neste caso a ideia é "antes beber sozinho do que mal acompanhado".

• A não ser que seja para meu próprio consumo, há muito tempo desisti de ser aquele que traz a garrafa e as taças à mesa em qualquer encontro de família ou amigos.

• Para situações de confraternização com pessoas avessas à cultura do vinho procuro manter sempre algumas garrafas bem baratas na adega.

• Em contrapartida, na ocasião em que é possível beber festivamente com amigos é natural que o grau de satisfação com qualquer vinho aumente.

Acho que por hoje está bom.

Volto ao tema daqui a três anos, se eu ainda estiver por aqui. Nesse meio tempo sintam-se à vontade para adicionar suas constatações ou contestações às minhas constatações.

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