quarta-feira, 10 de abril de 2019

É cada uma que me aparece!

Quando chega um email em minha caixa de entrada oferecendo-me um vinho por "apenas" R$ 1.299,00 eu me pergunto duas coisas.

Uma delas é que tipo de gente se dá ao luxo de pagar esse valor por uma garrafa de vinho. Se o vinho tem esse preço, é porque existe gente que compra.


Aí fica difícil reprovar o marketing de vinícolas que acabaram de ser fundadas e chegam a pedir R$ 500,00 por uma garrafa ícone de seu portfolio, numa exploração descarada de gente que acredita que vinho é status.

A outra coisa que penso é se eu seria tão retardado a ponto de um dia comprar um vinho assim.

Mas nem se eu ganhasse na Mega Sena!

Mais fácil seria plantar alguns hectares de Petit Verdot na Chapada dos Guimarães e engarrafar o sumo dois anos depois cobrando R$ 500,00 pela garrafa.

É cada uma que me aparece...

10 comentários:

  1. Te respondo com outra pergunta, sobre o louco de comprar um vinho deste preço: Quem é o louco de comprar uma Ferrari por 2 milhões, se pode comprar um Honda Civic por 100 mil? A resposta é: Quem tem bom gosto e dinheiro para isso. Agora, pagar 500 Reais por um Petit Verdot produzido na Chapada dos Guimarães, aí sim, é coisa de louco.
    Carlos João Ratão Toledo

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    1. Verdade. Quem tem dinheiro e pode/quer.

      No entanto, há uma distância qualitativa muito perceptível entre um Honda Civic e uma Ferrari, enquanto o mesmo não pode ser dito entre um corte bordalês da Serra Gaúcha e um bordalês legítimo da terra de Napoleão.

      No final das contas é tudo uva fermentada engarrafada cujas diferenças, por mais perceptíveis que sejam (algo que passa em branco para a maioria dos seres humanos), na minha opinião nunca justificarão as discrepâncias em preço decorrentes de esperteza de marketing ou décadas de legado histórico.

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  2. Se você comparasse um bom corte bordalês californiano, ou sulafricano, com os legítimos franceses, eu até poderia entender. Mas não dá para comparar os da Serra Gaúcha com grandes (nem médios) bordaleses. Além disso, os da Serra Gaúcha estão com preços inexplicáveis. Os preços dos vinhos brasileiros alcançaram patamares absurdos. Pagar 120-150 dólares por um vinho nacional é algo que não me entra na cabeça. Concordo que os grandes Bordeaux têm preços exagerados e não justificados, ainda mais se comprados aqui no Brasil. Mas um Bordeaux de 50 dólares nos EUA dificilmente será batido por algum dos melhores da Serra Gaúcha.
    Eu gosto muito de uma frase da Baronesa Philippine de Rothschild que dizia que fazer vinho é algo relativamente fácil. O duro são os primeiros 200 anos. Quem bebe um bom bordeaux ou borgonha, devidamente evoluído, sabe bem disso. Mas concordo com você que é duro pagar por eles.
    Sds

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    1. O contraste em minha comparação foi excessivo, admito.

      O que quis dizer, na verdade, foi bem sumarizado pelas primeiras linhas do comentário do Flávio mais abaixo. Vinho como um artigo de origem de agricultura, ou seja, alimento. Todo vinho vem da terra. A imensa gordura que é criada em torno do vinho, de meras garrafas de base reta a cifras astronômicas, é o que às vezes me deixa um pouco revoltado.

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    2. Perfeito. Mas como disse abaixo, considerando que o que define majoritariamente preço não é a qualidade intrínseca de um produto, embora faça sim parte da equação, é possível ter experiências degustativas com vinhos que entregam muito por preço justo. Lembre-se que, segundo a lenda, há cerca de 60 mil produtores de vinhos no planeta e 600 mil produtos diferentes. Se entre esses 600 mil rótulos o consumidor não conseguir encontrar algo que lhe satisfaça... Mas se a experiência buscada vai além da "meramente" degustativa (as aspas são propositais...), e rótulos "charmosos" são um fator, aí a história é outra...

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  3. Concordo em parte com você Edward, mas porque eu, eu disse eu, encaro o vinho, apesar de ler muito sobre seu contexto histórico e já ter visitado vinícolas até onde Deus duvida, como alimento, comunhão e artigo de origem de agricultura que é. E olha que tenho litragem, tendo bebido, a título de exemplo, só no mês passado, exemplares que iam de 50 reais a 900... A realidade é que quando se chega num patamar de qualidade X, as melhores características do vinho, se é que posso generalizá-las, e sequer estou falando de preço, tornam-se marginais. É como se você, a partir de tal qualidade, já estivesse fazendo os cem metros rasos em 10 segundos e buscando o recorde ao tirar meio segundo. E não é por outro motivo que, em degustações às cegas, e participo de algumas, não raro um vinho de "patrão" toma botinada de outros supostamente mais simples e seguramente mais baratos. E qual é o valor que diz se um vinho é ou não um vinho dez segundos? Bem... Na obra da Jancis Robinso o Atlas do Vinho, edição de 2014, ela coloca dados para indicar que a produção, eu disse produção apenas, de um premier cru francês gira em torno de... 9 dólares. Sim, 9 dólares... O que, diga-se de passagem, é muito maior do que a média de Bordeaux, que gira em 1.5 dólares (o conteúdo da garrafa). Por aí vocês imaginem se é possível um vinho de 50 dólares, que já é uma fábula, não estar num mesmo nível de outro, de milhares. É claro que está. Vinho é comida. O que define preço de produtos, sobretudo os de luxo, não é seu custo de produção, mas MERCADO! O MERCADO é soberano: um cru francês não custa o que custa porque é "melhor" do que um bom vinho sul americano... Ele custa o que custa porque o mercado paga por ele o que cobram por ele. E o que dita preço de mercado? Bem, Veblein já dizia que "nas altas camadas sociais, o alto custo estimula demanda, e não o contrário". Há diversos fatores que determinam o preço de um produto, centenas, e muitas vezes a qualidade intrínseca de um produto não tem nada a ver com seu preço. Aliás, na maioria das vezes não tem... Portanto, em que pese eu adorar vinhos, eu estudar em profundidade sua história, etc, talvez vacinado por outros hobbies, até mesmo mais caros do que este, eu não ligue muito, eu disse muito para rótulo. Se você quer uma experiência gastronômica e sensorial com um produto que é comida, pode ter certeza que, em qualidade, um excelente Barolo, por exemplo, de 50 euros, não deixa nada a dever de um, também por exemplo, Bordeaux de 10 mil dólares... Porém, se você quer ter outro tipo de sensação, que ultrapassa a "meramente" degustativa, aí o céu é o limite de gastos. Mas aviso: ainda que a pessoa gaste mundos e fundos em um Grand Cru da Borgonha, pode ter certeza que ele não lhe fará gozar: vinho, repito mais uma vez, como produto de agricultura que é, não foi feito por Leprechauns encantados na fábrica mágica para causar isso. Um baseado mais barato é capaz de lhe trazer mais sensações...

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    1. Excelente e esclarecedor comentário, Flávio, muito obrigado.

      Identificar as características marginais que fazem um vinho melhor que outro é um desafio que sempre vale a pena encarar. No meu caso há muito ainda a percorrer em matéria de quilometragem enófila, só não faço questão alguma de encarar tal desafio pagando o que certas vinícolas/importadoras pedem.

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    2. Somos dois. Mas nessas horas, faça como eu: grupos de degustação ou eventos nos quais os vinhos de rótulo de "barão" são servidos. Assim é possível dividir os custos e ainda ter uma boa percepção do que os grandes rótulos entregam.

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  4. Antes, diziam que o papel aceita tudo. Agora, devemos dizer que o teclado aceita tudo. Continuem bebendo Bordeaux Superieur pensando que estão consumindo Bordeaux.
    Quando o cara diz que tem litragem, que visitou vinícolas até onde Deus duvida, ou que, a titulo de exemplo, bebeu vinhos de 50 a 900 Reais, soa como aqueles que dizem "você sabe com quem está falando???".

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  5. Começou... Por que não apresenta argumentos que enalteçam a discussão, ao invés dessa trolagem chata? É muita babaquice nesse meio, crê em Deus pai!

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