De longe, a meia garrafa se confunde facilmente com uma garrafa de cerveja long neck, e de perto representa uma excelente maneira de apreciar um vinho sem exceder a tolerância de álcool da maioria das pessoas. No meu caso, a meia garrafa representa o volume médio ideal para se consumir como acompanhamento para uma refeição fora de casa. Nem mais, nem menos. Bem, talvez um pouco mais, mas bem pouco.
Mercadologicamente, é esperado que a disponibilidade de meias garrafas em lojas, supermercados e restaurantes seja bastante inferior à das garrafas normais. O formato diferenciado e todos os custos associados não é muito vantajoso para os pequenos produtores, e como o preço médio acaba ficando sempre acima da metade de uma garrafa normal muitos deles acabam por não poder colocar tais produtos no mercado. E há também aqueles que se recusam a fabricá-las apesar de possuírem os recursos.
Não vou entrar no mérito do vinho em meias garrafas envelhecer mais rápido que numa garrafa comum, até porque hoje em dia a esmagadora oferta disponível para nós, simples mortais, está aí para ser consumida imediatamente.
O problema da meia garrafa na maioria dos restaurantes é que sua disponibilidade nas cartas de vinho é extremamente reduzida ou mesmo completamente ausente. Longe de mim querer dar uma de sommelier, mas da posição de consumidor em que estou acredito que seria de bom tom ter ao menos 20% a 30% de opções de meia garrafa quando as comparamos ao grosso da carta – algo como 2 ou 3 opções para cada 10 garrafas normais.
Dos restaurantes que têm meias garrafas na carta, noto que é comum estas serem as versões menores das garrafas inteiras (o que é ótimo), que sejam de linhas inferiores ou de entrada, ou que dêem preferência única aos tintos. Com relação a este último aspecto, será que os brancos são tão mais leves que não justificam um estoque de meias garrafas?
No começo eu não dava muita bola para isso, mas hoje digo que sou um enófilo mais feliz sempre que me deparo com uma carta de vinhos que tenha ao menos duas boas opções de meia garrafa em cada categoria. Apesar de já ter perdido a vergonha de levar sobra de vinho para casa, cada vez mais tenho me deparado com situações onde a meia garrafa é uma saída razoável e elegante.
Nesse último feriado de Carnaval viajamos a Fortaleza, e como apreciadores da boa mesa visitamos quatro restaurantes distintos à noite. Em todos eles eu pedi uma meia garrafa para acompanhar o jantar, e para celebrar o fato faço a seguir um breve relato de cada uma das experiências:
Viña Parapacá, León de Tarapacá Chardonnay, DO Valle Central 2013 (Chile)
Degustado no restaurante Coco Bambu da Av. Beira Mar
Degustado no restaurante Coco Bambu da Av. Beira Mar
Um Chardonnay correto com o tempo ideal de barrica. Acompanhou perfeitamente o cardápio escolhido, da entrada de lulas empanadas ao prato principal de lagostas grelhadas. O restaurante, aparentemente um dos mais badalados de Fortaleza e o mais badalado da Av. Beira Mar, tem vários ambientes e localização privilegiada. A fila de espera nos assustou um pouco, mas acho que nem chegamos a esperar vinte minutos para sentar à mesa. Muito bom, vale a pena conhecer.
Bodega Alta Vista, Alta Vista Premium Estate Malbec, Mendoza 2013 (Argentina)
Degustado no restaurante Tio Armênio do Shopping RioMar
Degustado no restaurante Tio Armênio do Shopping RioMar
Um típico Malbec argentino, muito potente no alto de seus 14,5% de álcool. Aromas de fruta madura e paladar concentrado, encorpado, que harmonizou muito bem com um ternero ao molho de shitake e shimeji com risoto primavera. Visualmente, a etiqueta lembra muito uma cerveja long neck! Para quem busca um lugar refinado, com boas opções no cardápio e na carta de vinhos, o Tio Armênio é escolha certa. O melhor de tudo é que os preços são bem mais acessíveis que a média para um restaurante de sua categoria, então #ficaadica!
Casa Ferreirinha, Esteva Douro DOC 2013 (Portugal)
Degustado no restaurante Outback Steakhouse do Shopping Iguatemi
Degustado no restaurante Outback Steakhouse do Shopping Iguatemi
Sempre que podemos durante nossas viagens damos um jeito de ir a algum restaurante da rede Outback. Devido ao feriado prolongado, essa foi a primeira vez em que tivemos que aguardar um tempo considerável para conseguir uma mesa, mas a espera valeu a pena. A escolha da meia garrafa passou por lapsos de desinformação por parte do garçom, mas depois de algumas idas e vindas decidi-me por um vinho que ainda nem constava no cardápio oficial, um blend de Tinta Roriz (Tempranillo), Tinta Barroca, Touriga Franca e Touriga Nacional marcado por taninos presentes e carvalho bastante proeminente. A harmonização foi com costelinha de porco defumada ao molho barbecue, um dos nossos pratos favoritos no Outback.
Schröder & Schÿler, Château Bel Air Bordeaux AOC 2011 (França)
Degustado no restaurante La Luna, anexo ao hotel Ponta Mar
Degustado no restaurante La Luna, anexo ao hotel Ponta Mar
No último dia resolvemos arriscar, e logo que entramos no restaurante cheguei a achar que não encontraria uma carta de vinhos. Como vocês podem ver eu estava enganado, e das opções disponíveis acabei por escolher este assemblage com parcelas iguais de Merlot e Cabernet Franc para acompanhar o couvert de pães e queijos e um talharim com frutos do mar. Um vinho com certa personalidade, que soa agradável ao paladar apesar de não se exibir muito no lado aromático. Nenhuma ressalva a se fazer ao restaurante, que tem bom ambiente e mostrou ótimo atendimento.
Enfim, deixo aqui meu mais sincero apreço pelas meias garrafas nos restaurantes. :)
A primeira parte desta breve dissertação sobre o ato de limitar a degustação de vinho fora de casa pode ser lida aqui. Já a terceira parte, que trata sobre o consumo de vinho por taça, pode ser lida aqui.
Um abraço a todos que têm me acompanhado e saúde!
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