terça-feira, 10 de novembro de 2015

Barreiras na vida de um enófilo iniciante

Para aqueles que já estiveram onde estou ou de alguma forma estão inseridos neste universo, seja como acompanhantes esporádicos ou parceiros iniciantes, não há dúvida de que as descobertas e os conhecimentos proporcionados pelo exercício do hobby são fantásticas. Não só no campo dos vinhos em si, mas também em matéria de geografia, história, idiomas e tecnologia.

Ao mesmo tempo em que recebemos uma enorme quantidade de informações, vem também a constatação de que há muitos obstáculos de aprendizado a serem superados, felizmente quase todos de natureza prazerosa. Estou bastante satisfeito com o ritmo com que tenho aprendido a degustar sensorialmente, com o nível das informações que tenho absorvido e com a disponibilidade de rótulos nas lojas locais. Cuiabá não é nenhum grande centro em matéria de cultura do vinho, mas o fato de ser uma capital já ajuda um pouco.

Existe uma dificuldade, no entanto, com a qual não me vejo em posição de lidar de forma satisfatória tão cedo. Talvez dificuldade não seja a palavra mais adequada, mas enfim... Não se trata de nada relacionado ao que elenquei no parágrafo acima, nem tampouco aos recursos que possuo para exercitar o hobby. Como todo neófito afoito que se preze sou dado a fazer extravagâncias, mas mesmo assim vejo muita dificuldade em lidar com um ponto específico dessa jornada.


Refiro-me, especificamente, à espera que devemos exercitar para degustar vinhos de qualidade superior em seu auge. Estou excluindo dessa categoria os exemplares caríssimos inflacionados por décadas de história, marketing e mercado especulativo – um mundo que não me pertence e ao qual não tenho recursos para pertencer. Estou falando de (supostamente) ótimos vinhos de guarda a preços que cabem perfeitamente no nosso bolso. A dificuldade, no meu caso, é ter que esperar de 5 a 10 anos para que um grande vinho esteja no “ponto de abate”. Obviamente isto não quer dizer que ele não esteja apto para o consumo agora, mas só que ao abri-lo antes deste tempo não serei capaz de evidenciar os alardeados aromas terciários que surgem com o descanso prolongado, entre outras bonanças sensoriais.

Sinceramente não sei se aguento esperar tanto para abrir um bom rótulo de uma safra de 2012, por exemplo. Muita coisa pode acontecer em cinco anos. Sabe-se lá onde estarei daqui a alguns meses? Antes que me perguntem, sim, eu sei que existem meios alternativos para degustar safras antigas de grandes vinhos. É aí que entram dois fatores agravantes no meu caso: (1) não estou disposto a arcar com os custos astronômicos do envelhecimento dos vinhos nas mãos de terceiros; e (2) eventos enófilo-gastronômicos de razoável qualidade, que seriam as ocasiões mais interessantes para começar a enveredar pelo mundo dos vinhos envelhecidos, são extremamente raros em minha cidade.

Serei capaz de ser assim tão paciente?


Refletindo um pouco mais sobre essa dificuldade, finalmente entendi as mazelas de outro frequente dilema que todos nós enfrentamos: o tamanho da nossa adega climatizada. Uma de 20 garrafas está boa? Uma adega de 60 garrafas seria exagero? Pois bem, depois de analisar muitas opções decidi-me por um modelo capaz de guardar 37 garrafas. O que era um grande espaço vazio no início acabou se transformando num ótimo meio para limitar as compras, ou seja, eu estaria proibido de comprar mais vinhos enquanto não liberasse espaço na adega (entre outras regras que espero estar discutindo no futuro por aqui). Tudo muito bonito, não? Pelo menos até o momento em que comecei a trazer para casa alguns vinhos com bom potencial de guarda, que teoricamente passaram a ocupar um espaço que não poderá ser usado por um longo período de tempo.

E assim minha adega vai reduzindo de tamanho para os vinhos que podem ser consumidos mais rapidamente. E finalmente entendi porque muita gente se arrepende de comprar adegas pequenas, partindo eventualmente para unidades maiores ou adaptações de cômodos inteiros da casa somente para abrigar as preciosas garrafas que merecem envelhecer.

Por enquanto, fica minha expectativa de algum dia provar vinhos com tempo considerável de guarda. E porque sou persistente em minhas determinações e escolhas, me recuso a manter mais de 37 garrafas em casa.

E vocês, o que acham?
Qual foi a maior "dificuldade" que enfrentam ou enfrentaram durante o processo de aprendizado enófilo?

2 comentários:

  1. Olá Edward,
    parabéns pela sua determinação em se manter fiel ao limite da sua adega. Eu tenho uma de 44 garrafas (o fornecedor vendeu como 48, mas não cabem 48 nem a pau), e tenho 3 caixas de vinho fora da adega, mas eu espero baixar o estoque ao longo do próximo ano. É uma resolução de ano novo!

    Com relação ao dilema da guarda de vinhos, eu tenho algumas garrafas há alguns anos (a mais velha tenho há 4 anos, apenas), mas eu não confio plenamente na capacidade da minha adega manter a temperatura constante. Por isso, meu plano é sempre de guardar muito menos tempo do que a sugestão dada pelo produtor/vendedor. Tenho alguns com sugestão de guarda de 40 anos, com 10 anos no máximo, eu abro o primeiro pra ver se a adega funcionou bem.

    Eu acho menos arriscado comprar alguns vinhos já com idade, e de vez em quando encontramos com bons preços. Recentemente, tomei um Bordeaux 2005 vendido na loja da Wine. Também já comprei um Rioja Gran Reserva 2004 na Evino, e alguns rótulos diferentes que comprei pela Winelands. No momento, na loja online, tem alguns da Bulgária bem antigos, que recomendo. Os que recomendo descrevi no meu blog, vá lá dar uma olhada.

    Fica a minha dica, espero que te ajude a matar a curiosidade a respeito de um vinho de guarda.

    Boa sorte!

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    1. Olá, Rodrigo.

      Vamos ver por quanto tempo vou conseguir segurar algumas das garrafas que devo guardar. :)

      Eu já estive dando uma boa olhada no catálogo da Evino e da Winelands (já comprei lá, só que não vinho e sim um Wine Saver). Quem sabe sai uma compra num futuro próximo.

      Também vou estar lendo seu blogue com atenção, visto que há vários artigos lá que devem ser muito informativos e bem escritos.

      Obrigado pelo comentário e pelas sugestões!

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