Safra: 2013
Região: Valdepeñas
País: Espanha
Vinícola: Bodega Los Llanos (http://garciacarrion.es)
Muitas pessoas e websites nomeiam este vinho como Pata Negra Tempranillo/Cabernet Sauvignon, um blend cuja composição percentual é indicada no rótulo (80% e 20%, respectivamente). Quanto a mim, vou me ater ao nome simples Pata Negra porque este é o único exemplar da linha onde o nome aparece sozinho na vertical. Todos os outros estão na horizontal e possuem um predicado bem visível como Roble ou Reserva.
Por que “Pata Negra”?
O nome do vinho na verdade tem relação com o famoso presunto ibérico, um presunto curado produzido na Espanha e em Portugal que é feito a partir da carne do porco preto ibérico, conhecido localmente como porco de pata negra ou porco alentejano.
Nota engraçada: em minha pregressa ignorância enófila eu costumava confundir o Pata Negra com o Gato Negro, rótulo chileno produzido pela Viña San Pedro!
Um pouco de história
Nascida como Bodega Carabantes em 1875, a Bodegas Los Llanos possui hoje uma capacidade de produção de 60 milhões de litros de vinho ao ano, podendo ainda envasar até 100 milhões de litros. Ela possui uma das maiores caves subterrâneas do país, que podem abrigar até 30.000 barricas a doze metros de profundidade, onde é feito o envelhecimento em carvalho de toda a produção que necessita dessa etapa no processo de vinificação.
Assim como muitas outras vinícola longevas, a Bodegas Los Llanos (também chamada de Grupo de Bodegas Vinartis) se dedicou a produzir diversos rótulos ao longo de sua história. Entretanto, as linhas que vieram a fazer sua fama foram a Señorío de los Llanos e o Pata Negra, cujas garrafas da DO Valdepeñas são bastante conhecidas dos consumidores brasileiros em todas as suas versões e edições especiais. Algumas safras podem ser encontradas em elegantes embalagens, por exemplo.
Em 2008 a Bodega Los Llanos foi adquirida pelo conglomerado J. García Carrión, que detém hoje o posto de maior produtor europeu em volume (e quarto maior do mundo). Apesar de não haver interferência significativa nas operações da bodega, sua incorporação permitiu que outras vinícolas da companhia situadas em outras DOs também passassem a utilizar a força do nome Pata Negra. É por isso que hoje é possível encontrar o Pata Negra envasado também nas regiões de Rioja, Ribera del Duero, Rueda, Cava, Toro y Penedés.
O Pata Negra mais famoso, no entanto, e pelo menos para os brasileiros, continua a ser o da DO Valdepeñas, cujas variações são em sua grande maioria produzidas com a uva Tempranillo.
A Denominação de Origem Valdepeñas
A DO Valdepeñas deve sua designação à municipalidade de mesmo nome, cujo significado é "Vale de Pedras". A área desta DO é relativamente pequena quando comparada à DO La Mancha, que a envolve quase completamente.
Localização da DO Valdepeñas
O clima da região é fortemente continental, com solo de característias semiáridas e composto em sua maior parte por superfícies de areia argilosa. O alto teor de seixos e calcário propicia uma boa retenção de umidade, o que é vital nas condições escaldantes do verão espanhol na região, que possui altitude média de 700 metros acima do nível do mar.
Nos tintos, a menina dos olhos de Valdepeñas é a Tempranillo, conhecida localmente como Cencibel. Já nos brancos a casta mais proeminente é a Airén, uva resistente que se propagou na região após a devastação causada pela praga da filoxera.
Harmonização inesperada com bacalhau ao forno
O vinho degustado: Pata Negra, DO Valdepeñas 2013
Pronto para beber graças aos taninos amaciados, eu diria que o vinho é ótima pedida como coringa em conversas ou acompanhando tapas e refeições diversas.
A Tempranillo aparece na coloração mais límpida e no olfato característico de framboesa e cereja com leve especiaria, enquanto a parcela menor de Cabernet Sauvignon ajuda a aportar um resquício de fruta negra (ameixa), além de arredondar o corpo numa textura leve para médio com um quê de mineral no fim de boca. Quase não se percebe os três breves meses que o vinho passou em barris de carvalho.
Inicialmente o vinho acompanhou chips de provolone desidratado com molho picante (a "hóstia"), para em seguida fazer dueto com um bacalhau ao forno no sempre ótimo restaurante DiParma Originale. Como o bacalhau clama por algo com acidez mais acentuada a harmonização estava longe de ser uma das mais usuais, porém o almoço foi bastante agradável. Até porque a companhia do amor e a perspectiva de uma tarde preguiçosa são imbatíveis como pano de fundo para uma boa e descompromissada apreciação enófila.
Não me aventurei numa progressão vertical, mas teria sido muito interessante degustar em seguida as demais garrafas da linha Pata Negra Valdepeñas, que focam 100% na Tempranillo e vêm em versões denominadas Oro, Roble, Crianza, Reserva e Gran Reserva.
Saúde!
Finalizando a garrafa enquanto testo um crédito no jogo Rendering Ranger R2 do Super Famicom
Referências adicionais de pesquisa para este texto:
http://www.winemag.com/2015/12/08/one-name-for-all-of-spain
http://www.guiarepsol.com/es/gastronomia/bodegas/15771-bodegas-los-llanos-grupo-de-bodegas-vinartis-sa
http://www.wine-searcher.com/regions-valdepenas
http://en.wikipedia.org/wiki/Jam%C3%B3n_ib%C3%A9rico
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