sexta-feira, 8 de julho de 2016

Decanter × Temperatura

O eterno dilema sobre a correta temperatura de serviço do vinho é muito mais fácil de ser trabalhado em lugares de temperatura mais amena.

Certo?

Certíssimo, eu diria.


A observação acima é uma das várias que me ocupam a mente quando penso em temperatura de serviço. E como as coisas tendem a ficar mais claras depois que você passa a se dedicar com mais atenção aos vinhos que toma, cheguei à conclusão de que precisarei incluir mais um apetrecho ao meu arsenal enófilo.

Mas antes vamos discorrer um pouco sobre o tema.

A temperatura de serviço do vinho é um dos fatores mais importantes em sua apreciação

Ao ignorar os critérios de temperatura estabelecidos durante séculos de consumo da bebida, é possível destruir completamente a experiência de degustação de uma boa garrafa. Vinho muito quente e vinho branco servido como tinto são as patacoadas mais comuns. Os aromas somem, o álcool predomina e a decepção se instala. Temperaturas muito baixas também são ruins no caso de tintos, mas nesse caso as consequências são menos severas.

O cenário ideal para saborear um vinho tinto em sua plenitude exige temperatura ambiente compatível com sua natureza (um Cabernet servido em temperatura ambiente de 18 a 20º, por exemplo).

Em quase um ano e meio de dedicação enófila tenho notado consistentemente que a maior parte dos vinhos tintos dos quais tive uma melhor apreciação são os que foram degustados em ambiente de reduzida temperatura ambiente (para o padrão ao qual estou acostumado), sem qualquer influência externa no sentido de reduzir e manter sua temperatura nos níveis ideais. Com decanter ou sem decanter, não importa.


O decanter é ótimo para deixar o vinho “respirar”, mas a bebida sofre quando em temperatura ambiente elevada (o que acontece 95% do tempo no lugar onde vivo)

Não é preciso estar muito atento para perceber que a sensação tátil do vinho se altera ligeiramente para pior quando ele é degustado vagarosamente enquanto a garrafa ou o decanter têm sua temperatura equalizada a condições ambientes muito superiores à temperatura de serviço da bebida. Ao atingir uma temperatura mais elevada o vinho passa a apresentar uma sensação de “quentura” devido ao predomínio sensorial do álcool. A maciez dá lugar à rugosidade, e quando existente o equilíbrio se perde.

No calor que predomina em Cuiabá durante a maior parte do ano, manter e apreciar um vinho tinto na temperatura ideal não é uma tarefa fácil. Quando sinto que o vinho não precisa ser aerado, a minha alternativa é usar uma das melhores bugigangas enófilas que já comprei (hoje sei que é ótima para tintos, nem tanto para brancos). Já quando a aeração se torna uma necessidade, seja por noção prévia (abro e já vai pro decanter) ou por percepção inicial (vai pro decanter depois da primeira prova), o paliativo usual é levar o decanter à geladeira depois de algum tempo para tentar amenizar o inevitável ganho de temperatura do vinho.

Nota: nunca usei meu decanter com a função pura de decantar, ou seja, retirar os sedimentos de um vinho; todas as alegrias que ele já me deu se restringiram a amaciar garrafas potentes e nervosas.

Não é porque o ritual de socialização é bonito que o vinho fica mais gostoso quando compartilhado, mas sim porque a temperatura não sobe o suficiente para afetar a bebida de forma negativa

Ora bolas, a garrafa “vai embora” mais rápido!
Não é mesmo?


Enfim, depois de pensar bastante sobre o assunto e sobre como contornar o problema do aumento de temperatura do vinho quando colocado no decanter, decidi agregar mais um item ao meu conjunto de acessórios, como mencionei mais acima. Assim que ele chegar vou fazer uma postagem dedicada, atestando ou reprovando sua eficácia.

Por enquanto, deixo aqui dois links com mais informações e alguma discussão válida sobre o tema:
http://www.chowhound.com/post/squaring-decanting-correct-temperature-serving-red-wine-865772?page=2
http://www.thewinecellarinsider.com/2012/03/decanting-wine-when-how-and-why-to-decant-wine

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