“Espumante nem deveria ser considerado vinho”
Ali mesmo já soltei uma breve frase de discordância, alegando que a maioria dos espumantes é feita a partir de Chardonnay e Pinot Noir e blá-blá-blá.
De onde vem essa noção afinal, esse resguardo, esse preconceito que nós dois possuímos em relação aos espumantes? Ela pensa assim de forma contundente, mas apresso-me em dizer que compartilho somente de leve com sua opinião, já que tento convencê-la com certa frequência a provar mais espumantes. Sou mais preconceituoso, por exemplo, em relação ao vinho do Porto, que em sua composição recebe aguardente e em minha visão neófita o desqualifica como um vinho “puro”. Já cheguei a provar Porto, mas foi há tanto tempo que não me lembro mais de nada.
Todas as pessoas carregam uma carga cultural muito forte no modo como apreciam comida e bebida. Aqui em casa, por exemplo, roer pequi é tão natural quanto comer arroz e ovo, mas conheço muitas pessoas que nem fazem ideia do que seja um pequi. Eu mesmo sou capaz de comer coentro cru, mas tem gente que não tolera nem o cheiro. Do lado da bebida, os garrafões de 5 litros de Sangue de Boi e os antigos festejos de fim de ano regados a cidra Cereser com certeza geraram fortes impressões em nosso subconsciente, inclusive levando-nos a achar por muito tempo que cidra nada mais era do que mais um tipo de “champanhe”. E que chique mesmo é estourar a rolha e ver a espuma sair da garrafa...
Numa nação tão grande e quente quanto a nossa, fico estupefato de ver gente (em sua maioria homens) que simplesmente se recusa a beber vinho branco ou rosé por achar que esse tipo de vinho é “coisa de fresco”, e que vinho de verdade deve ser do tipo tinto somente.
Verdade seja dita, praticamente todo mundo tem algum nível de preconceito no universo do vinho, seja ele grave ou moderado – como por exemplo não gostar de Tannat ou de vinhos doces do tipo colheita tardia. Aqui em casa já vencemos/eliminamos algumas das ideias pré-concebidas que tínhamos quando iniciamos nosso aprendizado, sendo a maior delas a birra que pegamos contra a uva Merlot um tempo atrás. Certa feita, quando estivemos em Punta del Leste, saímos cambaleando de um restaurante após um jantar regado a uma garrafa de Merlot. A impressão que tivemos é que tínhamos tomado álcool puro! A sorte é que o hotel ficava a meia quadra de distância e ladeira abaixo, então não houve nenhuma consequência de trajeto. Não sabemos se o vinho estava extremamente desequilibrado ou se nossa opção de harmonização tinha desencadeado alguma reação maluca entre vinho e comida, mas demorou muito tempo para que experimentássemos um Merlot novamente.
"Não é assim que se degusta um Merlot, Paul"
Como dever de casa e mais uma resolução para o ano de 2016, listo abaixo os preconceitos que vamos tentar superar com relação a vinhos:
- Espumante – Não esperar até o Natal para abrir outra garrafa. Se possível, pedir uma num restaurante. Colocar um bom Lambrusco e um bom Prosecco na adega. Dar uma chance aos espumantes nacionais, tão alardeados pela crítica especializada como a menina dos olhos da produção vitivinícola brasileira.
- Vinho do Porto – Colocar um Ruby ou um Tawny na adega. Convidar amigos e degustá-lo com um dos ótimos bolos que minha esposa tem se especializado em fazer.
- Vinho rosé (sim, ainda existe um resquício de intolerância) – Abrir o Malbec rosé que trouxemos da Argentina. Adicionar mais algumas garrafas à adega.
- Vinhos doces – Colocar mais algumas garrafas na adega.
- Harmonização entre vinho e churrasco - Tentar convencer minha esposa de que funciona!
E você, já teve ou ainda tem alguma reserva ou preconceito com relação a algum aspecto relacionado a vinhos?
Ótimo texto! Acredito que vale acrescentar que iremos provar uma cava daqui a alguns dias! Vamos vencer os "pré" conceitos!!!
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